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Entrevista com Leandro Hassum

Entrevista com Leandro Hassum

No dia 21 de março estreia nos cinemas a comédia Chorar de rir, dirigida por Toniko Melo que traz a história de Nilo Perequê um comediante no auge da carreira que, cansado de não ser reconhecido como ator, larga seu programa de sucesso na televisão para fazer Hamlet no teatro, mas as coisas não saem como planejado. Protagonista da obra, Leandro Hassum veio a Salvador no último dia 14 de março para divulgação do filme e conversou um pouco conosco sobre a experiência, comédia, ídolos, filmes preferidos e sua filha. Confira.

Entrevista com Leandro Hassum CinePipocaCult: O que te faz Chorar de rir?
Leandro Hassum: Minha filha é quem me faz chorar de rir, minha melhor gargalhada, meu melhor presente. Filmes dos meus amigos também. Hoje em dia, artisticamente falando, Tatá Werneck me faz chorar de rir. Eu a acho genial. Toda vez que eu dou entrevistas, tem uma pergunta recorrente: Quem são seus ídolos, suas grandes referências? E eu sempre respondi, o que é verdade, Jerry Lewis, Chico Anysio, Jô (Soares), Renato (Aragão), tudo mais. Hoje eu digo eles são meus grandes professores, minha grande escola e minha grande base. Mas os meus ídolos e referências atuais são esses caras novos como a Tatá, Rafael Portugal, Caito Mainier, Monique Alfradique que é um talento na comédia, Fábio Porchat, Paulo Gustavo, essa turma que está trazendo uma respiração nova para o humor, não um novo humor, acho que o humor é o mesmo, bebem da mesma fonte. Mas trazem uma respiração nova para a comédia que cabe a nós, comediantes que estamos a mais tempo, entender o que é esse movimento.

CPC: O Toniko Melo (diretor do filme) disse que a inspiração para o filme veio de uma entrevista da Meryl Streep dizendo que “agora” ela está preparada para fazer comédia. E isso reflete um pouco esse pensamento que a maioria dos atores afirma sobre ser mais difícil fazer comédia do que drama. Aí eu te pergunto, trazendo para o tema do filme, por que acha que o trabalho do humorista é tão desvalorizado?
LH: Eu vou te dar uma resposta que é muito cruel, mas bem direta que quem me ensinou foi o meu diretor no Zorra Total, Maurício Sherman. Uma vez ele dirigiu Marília Pêra em um musical e foi indicado a melhor diretor. Aí eu falei, “puxa, Maurício, parabéns, você foi indicado”. E ele: “prefiro minha parte em dinheiro” (risos). É um comentário que parece meio grosseiro, mas eu acho que essa coisa de falar que a comédia é menor virou lugar comum. Nós não somos menores. Quem é do meio sabe o quão difícil é você fazer o riso. Como é mais fácil um comediante fazer um drama. Quando eu dava aula em faculdade, sempre dizia sobre isso: a gente está tão perto do absurdo, perto da tragédia, a gente acredita tanto naquela casca de banana no chão, que aquilo realmente é possível que virar a chave e transformar em um drama é muito simples. Já é mais difícil para um ator que está em um drama profundo virar para a comédia. O caminho é mais longo. E quando a gente traz para o universo do filme, é parecido. Todos nós, como artistas cômicos, na verdade como artistas em geral, a gente sempre escuta isso: por que agora você não faz isso? Uma mocinha ou um galã, ser questionado sobre um papel mais dramático. É normal. E você pode fazer, experimentar. O que não se deve fazer é o que o Nilo (Perequê, personagem do filme) faz que é abandonar a comédia para ser levado a sério. Isso é um erro. Nós somos plurais, podemos fazer diversos papéis ao mesmo tempo. O que me dá tesão é comédia, mas se amanhã surgir um convite para fazer um serial killer e eu achar que vou me divertir, não tenho medo de aceitar.

Entrevista com Leandro Hassum CPC: E quando você pegou o roteiro e conheceu a sua personagem, o Nilo Perequê, o que você se identificou e o que você viu que não tinha nada a ver com você?
LH: Eu me identifiquei com esse lugar comum que as pessoas sempre passam e falam “quando é que vai fazer um drama?”, ou então essa questão da premiação, a gente é chamado para apresentar a premiação dos filmes sérios. Eu me lembro uma vez que me chamaram para apresentar o Festival do Rio onde estão exatamente os filmes de arte, mais “cabeça”, e chamam o cara que pega mais salas de cinema deles, então, eles ficavam com o nariz torto para mim, aí eu fui brincando e quebrando o gelo aos poucos com frases como “vocês que nunca vão me chamar para fazer um filme” e foi. Então, nesse lugar eu me identifico com Nilo. E acho que as pessoas vão se identificar e se emocionar com Chorar de rir, porque é uma história que você pode transpor para qualquer outra profissão, seja um médico, um advogado, todos já passaram por essa cobrança de amigos, família, profissionais do ramo. Agora, o que o Nilo não tem e eu já tenho, é essa maturidade profissional de entender que “whatever”, eu já estou bem realizado em minha carreira e já tive oportunidade de trabalhar com pessoas incríveis que me admiram e respeitam, então, eu já encontrei o meu lugar. Quando eu emagreci e as pessoas diziam “você era mais engraçado gordo”, eu me incomodava e era até agressivo, hoje, eu lido com isso de maneira mais leve, até brinco. Você só prova para as pessoas que isso é bobagem, trabalhando, fazendo filmes.

CPC: Mas você ainda se incomoda com as críticas?
LH: Não, eu me incomodo com falta de educação, com grosseria. Uma coisa é você me perguntar “você se incomoda quando as pessoas falam que você era mais engraçado quando era gordo?” Eu vou dizer não. Outra coisa é vir e dizer “você quando era gordo era engraçado, agora não é mais”, aí eu vou responder que isso é só uma falta de educação sua. Em um primeiro momento, eu fiquei bem grosseiro, falando besteira. Eu estava errado. Como pessoa pública, eu tenho que estar disposto a ouvir. A crítica também, você não é obrigada a gostar de um filme meu e eu não tenho o direito de exigir que você goste do meu filme. Não é isso. Ou você pode dizer, “é, continuo achando o Hassum mais engraçado quando era gordo”. É uma opinião, nem Jesus agradou a todos.

Entrevista com Leandro Hassum CPC: Você falou sobre seus “professores”, os mestres do humor como Jerry Lewis que você chegou a contracenar em Até que a Sorte nos Separe 2. Tem outros ídolos que você gostaria de contracenar e não conseguiu?
LH: Sim, Ronald Golias. Um cara que é um ídolo e infelizmente eu não tive tempo de trabalhar. E, vou te falar uma coisa, eu sou funcionário da Globo, então, não posso, mas eu tinha muita vontade de sentar na praça com o Carlos Alberto porque é um programa que teve a minha infância toda e eu gostaria de estar um dia ali, sentado com ele, mesmo que de brincadeira com ele dizendo “a mesma praça, o mesmo banco”. Seria um momento de grande emoção. Eu tive a oportunidade de trabalhar com grandes ídolos, já ouvi elogios de grandes ídolos. Tem um vídeo que o Vitor Búrigo me deu em que o Renato Aragão fala que para ele o ator de cinema que mais parece com o trabalho dele é Leandro Hassum. Ouvir isso dele é tipo zerar o joguinho.

CPC: E como foi trabalhar com Toniko Melo?
LH: Uma relação muito boa. O Toniko é um cara de outra geração, de um cinema de outra forma, foi novo trabalhar com ele, que tem outro ritmo de dirigir, mas foi um trabalho muito fluido, ele me respeitava muito na hora da comédia. E o que você pode ver no Chorar de Rir é uma elegância de fotografia, de enquadramentos que é tudo responsabilidade dele.

CPC: Nessas maratonas de entrevistas, muitas perguntas se repetem, como você falou, mas tem alguma pergunta que nunca te fizeram e você gostaria de responder?
LH: Ai, gente, que pergunta interessante. Talvez algo como que tipo de projeto que você nunca fez e gostaria de fazer. Eu adoraria fazer um filme de terror. Amo. Vejo muito desde a infância. E até hoje vejo muito com minha filha. Adoro a reação dela quando toma um susto e me abraça. Gosto daqueles que a gente fica falando com a tela “sai daí, idiota” (risos).

CPC: E qual seria o filme da sua vida?
LH: Aí eu vou para outro lugar. Eu sou cafona. Seria Um Lugar Chamado Notting Hill, Uma Linda Mulher e agora Nasce uma Estrela, chorei horrores. Eu adoro Julia Roberts, sou fã. Aquela cena final de Notting Hill com aquela música (She), amo. Quando eu casei com minha mulher, coloquei essa música para ela entrar.


Fotos: Genilson Coutinho.

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