Duas Rainhas
Duas mulheres em situação de poder na sociedade machista do século XVI. Mais do que uma reconstituição histórica, Duas Rainhas é sobre isso. Por isso algumas liberdades poéticas como o encontro das duas que nunca existiu.
Nas mãos da diretora Josie Rourke, veterana no teatro em seu primeiro filme, o filme é construído através de sutilezas na comparação entre as duas ainda que nunca negue o protagonismo de Mary Stuart, tanto que o título original é Mary Queen of Scots e o livro no qual é baseado, "Queen of Scots: The True Life of Mary Stuart" de John Guy.
Saoirse Ronan constrói sua Mary com delicadeza e força. Sem criar falsos mistérios em relação ao seu destino, a trama já inicia com sua execução e durante toda a projeção vemos aquela mulher com seu futuro trágico respirando esperança e fé em cada gesto. Isso é algo que instiga, ainda que a narrativa seja oscilante em muitos momentos.
Margot Robbie também cumpre bem o seu papel de soberana inglesa, passando todo o fardo que é ser quem é, humanizando a rainha histórica tantas vezes humanamente distante. A cena ficcional do encontro das duas reflete toda a tensão e angústia que é não poder agir como se realmente quer quando se cumpre um papel social.
Construído com muitos paralelos entre Inglaterra e Escócia, o filme acostuma a colocar as paisagens e a mise-en-scène das duas cortes sempre em contraste com as duas mulheres, buscando muitas vezes sufocá-las, mas ao mesmo tempo, trazendo algumas composições de imagem e luz que as destaca em meio às adversidades.
Questões políticas e religiosas marcaram essa época da história do Reino Unido, mas o filme de Josie Rourke parece buscar algo além do que está nos livros. Busca discutir a mulher de hoje. A necessidade de se compreender o significado de sororidade, por mais absurdo que isso pareça diante da atitude de Elizabeth.
De alguma forma, entre cartas e encontro fictício, essas duas mulheres se vêem, se compreendem, se aproximam. Seus sentimentos e angústia diante de um poder que não se pode exercer completamente é compartilhado. Assim como a cobrança excessiva, como se, por ser mulher, fosse necessário provar a todo momento competência e merecimento.
Duas Rainhas não é um filme perfeito, mas toca em questões já vistas com um olhar diferente. E, por isso, acaba chamando a atenção.
Duas Rainhas (Mary Queen of Scots, 2019)
Direção: Josie Rourke
Roteiro: Beau Willimon
Com: Saoirse Ronan, Margot Robbie, Jack Lowden
Duração: 124 min.
Amanda Aouad
Crítica afiliada à Abraccine (Associação Brasileira de Críticos de Cinema), é doutora em Comunicação e Cultura Contemporâneas (Poscom / UFBA) e especialista em Cinema pela UCSal. Roteirista profissional desde 2005, é co-criadora do projeto A Guardiã, além da equipe do Núcleo Anima Bahia sendo roteirista de séries como "Turma da Harmonia", "Bill, o Touro" e "Tadinha". É ainda professora dos cursos de Jornalismo e Publicidade e Propaganda da Unifacs e da Uniceusa. Atualmente, faz parte da diretoria da Abraccine como secretária geral.
Duas Rainhas
2019-04-20T08:30:00-03:00
Amanda Aouad
critica|drama|Jack Lowden|Josie Rourke|Margot Robbie|oscar2019|Saoirse Ronan|
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