
Primeiro longa-metragem dirigido por Stefon Bristol, A Gente Se Vê Ontem é uma ficção científica que instiga por associar viagem no tempo com questões raciais, porém, o roteiro acaba sendo infantil demais para a seriedade do tema abordado.
Mais uma aposta da Netflix em filmes originais, a produção chamou a atenção por ter Spike Lee como produtor. Porém, o embasamento da trama não consegue atingir o bom nível das obras do diretor, ainda que tenha influências visíveis, inclusive na construção do universo ficcional e personagens.

Há muitas referências a filmes de viagem no tempo, em especial De Volta para o Futuro com participação especial de Michael J. Fox como professor dos meninos com direito a repetir a famosa expressão do Dr. Brown (Christopher Lloyd) na trama, “great scott”. Porém, as similaridades ficam por aí.
Poderia ser só um filme adolescente de viagem no tempo e algumas atrapalhadas. A trama, porém, busca um aprofundamento da questão racial e a violência policial, construindo uma situação chave e um retorno temporal que busca evitar um trágico acontecimento na vida da protagonista. Porém, a tentativa acaba piorando tudo, tipo as tentativas de Evan em Efeito Borboleta.

A direção também constrói muitos momentos de clipes de passagem, contemplando o bairro e criando uma quebra na trama que ajuda nessa sensação ruim de que a história não está tendo o tratamento que merece. Há poucos respiros e reflexões. E as próprias situações não são construídas para nos fazer comprar a ideia, nem mesmo nos envolver completamente com as personagens.
Ainda assim há bons momentos como quando é dito o título do filme, que apesar de didático traz uma das poucas cargas emocionais que o tema merece. A Gente Se Vê Ontem é um filme que traz elementos e argumentos instigantes, mas faltou maturidade para tratamento mais profundo.
A Gente Se Vê Ontem (See You Yesterday, 2019 / EUA)
Direção: Stefon Bristol
Roteiro: Fredrica Bailey e Stefon Bristol
Com: Eden Duncan-Smith, Dante Crichlow, Astro
Duração: 86 min.