
Em As Praias de Agnès, a cineasta resgatou suas lembranças pessoais através das praias que conheceu. O local sempre lhe inspirou, acalmou a fez refletir sobre si e seus trabalhos. Aqui, ela mergulha em suas obras, inclusive neste documentário, construindo um fechamento instigante sobre si mesma.

Na verdade, as escolhas de Varda já começam a chamar a atenção no início, quando os créditos surgem em sua totalidade, nos remetendo ao início do cinema, quando era assim e na cartela final vinha apenas o famoso The End. Resgatar esse costume é também valorizar o fazer cinematográfico já que, com exceção dos filmes da Marvel, as plateias costumam se levantar para ir embora quando se iniciam os créditos, não se importando com os nomes que surgem ali.

Há beleza em cada fala, em cada frame, daquela senhora rechonchuda e falante, como ela mesmo se define. É divertido ouvir seus relatos de maneira tão espontânea seja sobre fracassos ou sucessos. E o fato de trechos dos filmes virem ilustrando cada passagem só enriquece e nos dá vontade de rever cada obra, observando o que foi explicado, como a cena em que Cléo caminha pela calçada em contraste com a que ela observa um artista de rua em Cléo das 5 às 7.
Por mais filmes de ficção marcantes que tenha feito, Varda demonstrou seu coração de documentarista e terminar a vida assim não deixa de ser uma benção. Documentando a si mesma, sua carreira, seu estilo como cineasta e também como professora dessa instigante Master Class. Há muitos filmes em Varda por Agnès e é maravilhoso poder aproveitar cada um deles.
Varda por Agnès (Varda par Agnès, 2019 / França)
Direção: Agnès Varda
Roteiro: Agnès Varda
Duração: 115 min.