
Um dos maiores fenômenos da música popular brasileira, Wilson Simonal podia deixar o microfone que a plateia continuava suas músicas sem muito esforço tal qual era o sucesso que fazia. Mas com a mesma força que o público o ergueu, o derrubou após os boatos de que ele seria delator da ditadura militar. Desde sua morte, há movimentos para esclarecer melhor essa situação, como o recente documentário “Você não sabe o duro que dei”. A ficção dirigida por Leonardo Domingues acaba girando em torno também disso, ainda que não se limite ao fato.
Na verdade, o roteiro do diretor em parceria com Victor Atherino fica no meio do caminho das cinebiografias, pois nem conta a vida inteira do cantor, nem mergulha em um fato específico. Busca abarcar exatamente o período de fama que vai do início da carreira propriamente dita quando conhece Carlos Imperial até o momento em que constata que a mesma acabou, já que público, classe artística e imprensa não estão dispostos perdoar o “dedo duro” da música popular brasileira.

“A gente vivendo uma ditadura e você cantando País Tropical”, ele ouve em um certo momento. Elis Regina, o contraponto mais famoso que também foi “enterrada” pelo Pasquim, por exemplo, se posicionou politicamente através de sua música. Claro que sua acusação também foi mais amena, já que cantar no dia do exército é diferente de delatar companheiros. E era branca. Mas há nuanças nos dois casos. O fato é que Simonal foi condenado pela opinião pública e pela classe artística sem direito a um julgamento justo ou mesmo uma oportunidade de esclarecer os fatos. Isso, o filme de alguma maneira faz.

O filme ganha o público também pelas apresentações musicais, inclusive com a inserção de imagens reais do Maracanãzinho na famosa apresentação de 1969 quando ele apenas abriria o show de Sérgio Mendes, mas acabou sendo a atração principal pela empolgação do público. Destaque a o hit “Meu limão, meu limoeiro” tocado diversas vezes durante a projeção. Há momentos divertidos como quando deixa o palco no meio da apresentação e alguns momentos de bastidores das músicas que também ajudam a refrescar memórias afetivas.
Simonal cumpre sua proposta de resgate da imagem de um artista controverso. Tem bons momentos de direção, uma atuação impecável e uma sensação nostálgica quando aborda as músicas e o sucesso do artista. Fica, no entanto, no superficial, construindo uma cinebiografia correta, mas sem maiores atrativos.
Simonal (Simonal, 2019 / Brasil)
Direção: Leonardo Domingues
Roteiro: Victor Atherino, Leonardo Domingues
Com: Fabrício Boliveira, Ísis Valverde, Leandro Hassum, Mariana Lima, Silvio Guindane, Bruce Gomlevsky
Duração: 105 min.