
Em tempos de incertezas e questionamentos sobre a cultura local, foi muito bom acompanhar de perto a Competitiva Baiana do XV Panorama Internacional Coisa de Cinema. Chama a atenção a variedade temática, a diversidade de gêneros e olhares, além, claro, da qualidade. Acima de tudo, vimos Cinema nas telas do Glauber Rocha.
Os quatro longas da Competitiva não poderiam ser mais diversos. Uma animação, um documentário intimista e dois com temática indígena também bem diferentes entre si. Várias vozes e olhares que construíram sensações diversas. Entre os médias e curtas, a variedade foi ainda maior, tendo filmes de gêneros, experimentais e documentários com linguagens das mais diversas demonstrando que o cinema baiano é mesmo plural.
Entre os premiados, Cinema de Amor foi a unanimidade. O filme de Edson Bastos e Henrique Filho surpreendeu a todos e todas pela honestidade e qualidade com que os dois cineastas se colocaram em tela. Um filme sensível que fala de amor e política com a mesma intensidade, demonstrando que a arte não pode parar.

Ainda que com menos frescor que Mamata, Joderismo nos traz uma elementos criativos, utilizando os poucos recursos disponíveis para construir uma linguagem própria e significados que impactam, como uma casa vazia ao som de uma voz no interfone ou uma música específica em andamento lento em uma imagem de um mar e um pôr do sol. Há uma busca por expressão, quase um grito de socorro, que nos toca na obra de Curvelo.
Já o curta premiado pelo júri oficial, Arco do Tempo de Juan Rodrigues traz uma importante reflexão sobre etnia. Fechando a chamada trilogia “Bichas Pretas” que já tinha Arco do Medo e Arco da Liberdade, a obra traz experimentações de linguagem, construindo significados a partir de performances e imagens simbologias como um pedaço de carne para discutir as visões sobre o corpo negro, mesclando com conversas intensas em uma varanda.

Menção honrosa do júri oficial e APC, Miúda e o Guarda-chuva é outro destaque da competitiva. Um longa de animação com uma linguagem poética e divertida que foi evoluindo com o passar do tempo, já que vem de uma peça e um curta de mesmo nome de autoria de Paula Lice e Victor Cayres. Os dois co-dirigem o longa com Amadeu Alban, construindo um belo resultado que fortalece o cenário da animação no país.
Tudo isso demonstra que o cinema baiano está mais vivo do que nunca e nos inspira a continuar. Afinal, como o Superoutro de Edgard Navarro, símbolo dessa edição, nosso dever é voar.