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Bixa Travesty

Bixa Travesty - documentário - filme brasileiro

Um filme manifesto, com tanta verdade e criatividade que não tem como passar em branco. A artista Linn da Quebrada dá o tom do documentário Bixa Travesty. Suas músicas são a narração que explicita a mensagem, sua imagem nos conduz por toda a projeção e suas ideias recortam a trama, com direito a cenas em que discutem imagens no computador com uma amiga. Não por acaso ela assina o roteiro junto com os diretores.

Há uma dinâmica própria que trabalha intercalando imagens de shows, sua rotina em casa e uma performance em uma espécie de programa que vai reivindicando seu direito de ser mulher, ainda que com pênis e sem seios. Que traduza seu desejo pelo sexo masculino, ao mesmo tempo que menospreza o macho alfa padrão. As quebras de paradigma são também uma tradução da nossa época cada vez mais plus a ponto da sigla LGTB ter ganho um + para abarcar toda a diversidade.

Bixa Travesty - documentário - filme brasileiroBixa Travesty impacta sem necessariamente querer chocar. Nada é gratuito, ainda que traga imagens que extravasem sensações diversas. O corpo aqui não é um tabu, exposto das mais diversas formas como mais um elemento de expressão artística. Sexualizado em palco em diversas performances. Mas também puro em um banho entre mãe e filho.

A linguagem também não sofre censura, sendo possível ouvir todos os tipos de palavras que nomeiam os órgãos sexuais da mesma forma que podemos ouvir Linn perguntar a mãe porque a calcinha dela molha. Sexo não é tabu, falar dele muito menos. A expressão da artista se impõe em tela de maneira virtuosa e nos conquista pela autenticidade.

Bixa Travesty - documentário - filme brasileiroOs números dos shows são outro ponto positivo, com letras afirmativas e provocativas, a artista canta, dança e interpreta em cena suas mais diversas facetas. As músicas possuem qualidade por si só. Se fosse só um cineshow já teria seu valor. A maneira como essas apresentações são costuradas com o resto faz o documentário crescer em experiência.

O mundo evoluiu e tem se tornado cada vez menos binário e heteronormativo por mais que movimentos extremistas exaltem preconceitos também dos mais diversos. A própria existência de artistas como Linn e a possibilidade desse filme já denota uma progressão de pensamento que deve, de certa maneira, ser valorizada em um país onde a quantidade de trans assassinados ainda bate recorde.

Provocativo, o documentário quer nos tirar do conforto e compreender que não há mais como voltar atrás por mais que muitos tenham a sensação de retrocesso. Um filme que nos ganha em diversos aspectos, inclusive no talento dessa cantora, compositora e performance chamada Linn da Quebrada.


Bixa Travesty (Bixa Travesty, 2019 / Brasil)
Direção: Claudia Priscilla, Kiko Goifman
Roteiro: Claudia Priscilla, Kiko Goifman, Linn da Quebrada
Direção: 75 min.

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