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Henrique Filho
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Cinema de Amor
Cinema de Amor
O grande vencedor da Competitiva Baiana do XV Panorama Internacional Coisa de Cinema traduziu bem o slogan do festival esse ano que trazia a imagem do Superoutro de Edgard Navarro com a frase “Tempos difíceis. Só nos resta voar!” Não está sendo fácil ser cineasta e LGBT+ no Brasil atual. Edson Bastos e Henrique Filho subverteram então a lógica e criaram o seu Cinema de Amor, literalmente.
O documentário narra o dia a dia do casal, retratando as dificuldades financeiras, as ameaças à Ancine e às questões LGBT+, além, claro, da relação amorosa dos dois. A partir do registro de suas rotinas, no melhor estilo do Cinema Direto, com câmeras observativas que não interferem na cena, vemos momentos íntimos e encontros sociais com a mesma intensidade.
Chama a atenção a maneira como Henrique e Edson conseguem construir uma narrativa universal a partir da vida dos dois. A obra traz uma estrutura bem pensada que vai sendo costurada com direito a plots e clímax. A construção das personagens também é bem feita, nos fazendo criar empatia por ambos a ponto de rir e chorar com eles a cada novo acontecimento.
É também um ato de coragem ao vê-los se expor de maneira tão verdadeira em cena. Uma capacidade admirável de transformar a própria vida em arte sem parecer pedante ou mesmo exagerado. Há verdade na tela. Isso nos conquista acima de tudo. Principalmente por ser uma história de amor.
Se não bastasse, apesar de feito com celular colocado estrategicamente em pontos da casa, o filme consegue imprimir sua estética. Os enquadramentos são bem pensados. Há brincadeira de inception como quando Henrique está editando e a tela mostra ele editando também. Há divisão de tela com Edson na cama e Henrique no computador. Há uma maneira criativa de gravar uma roda de conversa de amigos na varanda, sem precisar cortar para planos próximos. Tudo isso são detalhes que demonstram ser um filme bem pensado e planejado.
O filme é também um ato político. Uma alternativa de não parar mesmo com as dificuldades dos incentivos públicos após a mudança de governo, principalmente para temáticas LGBTs. E eles conseguem colocar isso no filme de maneira simples e verdadeira, sem precisar ser panfletário. A realidade é exposta, das ameaças e perseguições do governo federal, mas também do edital do governo do estado que inabilitou seus projetos. A realidade não está fácil, mas há também momentos de respiros nos encontros com os amigos ou quando acompanham a votação da lei que torna homofobia crime.
Cinema de Amor é surpreendente em diversos aspectos. Não por acaso levou o prêmio do júri oficial, do júri APC e do Júri jovem do Panorama. Um documentário que parecia despretensioso, mas que carrega consigo muitas vozes e causas. Uma obra que retrata sua época, mais do que um único casal. Que esses dois rapazes de Ipiaú não se deixem abater e continuem transformando suas angústias em arte.
Filme visto no XV Panorama Internacional Coisa de Cinema.
Cinema de Amor (Cinema de Amor, 2019)
Direção: Edson Bastos e Henrique Filho
Duração: 70 min.
Amanda Aouad
Crítica afiliada à Abraccine (Associação Brasileira de Críticos de Cinema), é doutora em Comunicação e Cultura Contemporâneas (Poscom / UFBA) e especialista em Cinema pela UCSal. Roteirista profissional desde 2005, é co-criadora do projeto A Guardiã, além da equipe do Núcleo Anima Bahia sendo roteirista de séries como "Turma da Harmonia", "Bill, o Touro" e "Tadinha". É ainda professora dos cursos de Jornalismo e Publicidade e Propaganda da Unifacs e da Uniceusa. Atualmente, faz parte da diretoria da Abraccine como secretária geral.
Cinema de Amor
2019-11-13T08:39:00-03:00
Amanda Aouad
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