Klaus
Em um mundo em que a computação gráfica se tornou essencial para os filmes de animação e o formato 3D parece ser o mais atraente aos olhos dos pequenos, Klaus é um ponto fora da curva. Ainda mais se pensarmos que é mais um filme de Natal em um catálogo já tão vasto do gênero. Em todos os aspectos, ele surpreende.
A história em si não é novidade, mas a maneira como vai sendo encadeada nos envolve. Jesper é um jovem irresponsável que é enviado por seu pai para a longínqua ilha localizada acima do Círculo Ártico, Smeerensburg, como carteiro, com a missão de selar um número mínimo de cartas antes de retornar. O problema é que os habitantes locais só fazem brigar e não estão nem um pouco interessados em enviar qualquer tipo de encomenda.
O espírito local é de ódio. Quem não se adere à briga eterna das duas famílias só tem um pensamento, ir embora o mais rápido possível. Como a professora Alva, que, ao não ter alunos para ensinar, transformou a escola em uma peixaria. O mistério fica por conta de um marceneiro que vive no alto da montanha e o encontro dele com Jesper é que vai mudar a rotina local e o destino de todos.
Ou seja, o espírito natalino está no conflito principal da trama. Na transformação do ser e do ambiente que o cerca, na construção de um plano para melhorar o mundo, ajudar ao próximo e cultivar bons sentimentos. É bonito, ainda que, no fundo, a lenda de Santa Klaus acabe apenas incentivando o capitalismo desenfreado a cada final de ano. Ainda bem que temos o cinema para continuar a sonhar com propósitos melhores.
Mas o que chama a atenção mesmo em Klaus é a técnica de animação. Sergio Pablos, que já trabalhou nos estúdios Disney e é co-criador de Meu Malvado Favorito, resgata a técnica de pintura a mão que faz toda a diferença no efeito final da obra, mesmo que a finalização tenha sido com o auxílio do computador.
A textura e cores dos cenários, o design das personagens, a criatividade dos detalhes, tudo encanta aos olhos. E ainda faz eco à arte da construção artesanal dos brinquedos feitos por Klaus para as crianças. Há uma pureza de gestos, ainda que ingênuos, que cria um sentimento bom, de acolhimento, distante da frieza de animações cada vez mais impessoais.
Klaus é um filme singelo que nos ganha nos pequenos gestos. Tem uma história clichê, mas construída com um ângulo novo, com um formato criativo e que demonstra ter alma. Talvez por isso tenha encantado a tantos.
Klaus (Klaus, 2019 / Espanha / Reino Unido
Direção: Sergio Pablos, Carlos Martínez López
Roteiro: Sergio Pablos
Duração: 96 min.
Amanda Aouad
Crítica afiliada à Abraccine (Associação Brasileira de Críticos de Cinema), é doutora em Comunicação e Cultura Contemporâneas (Poscom / UFBA) e especialista em Cinema pela UCSal. Roteirista profissional desde 2005, é co-criadora do projeto A Guardiã, além da equipe do Núcleo Anima Bahia sendo roteirista de séries como "Turma da Harmonia", "Bill, o Touro" e "Tadinha". É ainda professora dos cursos de Jornalismo e Publicidade e Propaganda da Unifacs e da Uniceusa. Atualmente, faz parte da diretoria da Abraccine como secretária geral.
Klaus
2020-01-31T08:30:00-03:00
Amanda Aouad
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