
Quarta-feira de cinzas, um policial retorna do recesso de Carnaval antes do previsto por causa do assassinato de uma francesa durante as festas em Recife. Em casa, ele encontra seu filho, uma amiga de infância e um casal desconhecido ocupando o local, tendo que lidar com esse incômodo ao mesmo tempo em que feridas do passado são revividas.
Essa sinopse do segundo longa-metragem solo de Hilton Lacerda traz camadas sutis que vem desde o título da obra, Fim de Festa. Há algumas festas que são encerradas na trama, não apenas a óbvia do Carnaval. Algumas metafóricas que desenrolam outras discussões inclusive sociais e políticas. Choque de gerações, questões de gênero, relação entre patrão e empregada doméstica, feminismo, tudo cabe no caldeirão construído em cinco dias de investigação.

Ainda que em um tom menos lírico que Tatuagem, Hilton Lacerda conduz sua trama policial de maneira muito particular. Instiga o espectador a todo momento, fugindo das fórmulas, ainda que se utilize de estereótipos como o da mãe do marido da vítima e todo o discurso de classe média sobre as mazelas do país, só porque foi morar no exterior. As tramas paralelas vão se costurando de uma maneira muito própria, nos dando sempre a sensação de estarmos ali, participando de algo muito cotidiano.

Os jovens Breno, Penha, Ângelo (Pluto) e Indira, vividos por Gustavo Patriota, Amanda Beça, Leandro Villa e Safira Moreira, também constroem um boa dinâmica, há química entre o grupo que torna crível a relação livre, ajudando a construir esse retrato geracional sem rótulos, tabus que, nem por isso, os torna superficiais.
Fim de Festa constrói um retrato de uma época, a partir de uma trama aparentemente simples. Há uma linha tênue que flerta com gêneros, mas o cinema de Hilton Lacerda recusa rótulos. Livre e envolvente, como o grupo que retrata.
Fim de Festa (Fim de Festa, 2020 / Brasil)
Direção: Hilton Lacerda
Roteiro: Hilton Lacerda
Com: Irandhir Santos, Gustavo Patriota, Amanda Beça, Leandro Villa, Safira Moreira, Hermila Guedes
Duração: 100 min.