O que o cinema nos ensina
Em 1999, o agente Smith já tinha definido, somos um vírus que destruímos tudo por onde passamos. Pode parecer exagero, mas o fato é que, há muito, o egoísmo, a ganância e o automatismo de nossa sociedade não nos faz perceber que vivemos em um processo de auto-destruição e destruição do planeta. Aprendemos a conviver com os desastres, minimizamos os efeitos climáticos, tentamos nos convencer de que a extinção de algumas espécies é normal, aceitamos até as doenças. Mas quando vem uma pandemia como a atual, do coronavírus, o pânico se instala.
Filmes pós-apocalípticos são comuns, como também filmes de pandemias que dizimam a humanidade. Somos acostumados a ver tramas assim e quando acontece na vida real a sensação é mesmo de estar vivendo em um filme. E é difícil desassociar do fim mundo. Logo lembramos dos piores exemplos e passamos a agir de maneira irracional, conduzida pelo pânico. Quem não imaginou o cenário de Doze Macacos ou de Depois da Terra, por exemplo? Ou mesmo Eu Sou a Lenda. Aliás, apocalipse zumbi parece ser sempre um medo real das pessoas, vide os estoques de comidas e outros itens inusitados como papel higiênico que foi o primeiro a faltar nos supermercados.
Só que em vez de entrar em paranoia e achar que é o fim do mundo, não seria melhor aproveitar o momento para repensar nossas atitudes? A nossa Matrix pode não ser tão elaborada quanto a que as irmãs Wachowski imaginaram, mas vivemos em uma realidade ilusória, de aparências que não nos deixa ver o que é essencial.
Afinal, os filmes também nos ensinam isso. Quantas vezes ficamos irritados com aquelas personagens irracionais que saem estocando tudo, gerando mais caos com seu medo que com a ameaça em si? Pensar no próximo é um bom início, não? Principalmente naqueles que não tem condições de estocar nada. Naqueles que nem sequer tiveram o privilégio de parar para se proteger. Como podemos ajudá-los?
Não podemos esquecer também aquelas personagens que ignoram os avisos e tornam-se vítimas perfeitas ou novas ameaças para os que convivem com elas por se expor ao perigo ou fazer alguma besteira apesar dos avisos. Em Salvador, tiveram que cercar a praia para as pessoas deixarem de frequentá-la, por exemplo. Uma coisa é não ter o privilégio do home office, outra é pensar que está tudo bem e continuar a vida como se nada tivesse acontecido.
Lembrar desses dois extremos é fundamental para entender que tudo precisa de equilíbrio. Até mesmo diante do caos. É preciso repensar nossas atitudes e o cinema, de alguma forma, sempre refletiu sobre isso.
Fazendo a nossa parte, então, vamos buscar dar dicas de filmes durante esse período. Não filmes catástrofes, o noticiário parece estar se encarregando bem disso. A ideia é buscar mudar um pouco a sintonia, valorizar boas obras, mas com temas que possam nos fazer voltar a acreditar na humanidade. Pode não parecer muito, mas é sempre importante manter a chama acesa.
Algumas dicas de filmes para quarentena:
Netflix
Brilho Eterno de uma Mente Sem Lembranças (2004) de Michel Gondry
O filme é triste, mas nos lembra a força do sentimento romântico, mesmo que venhamos a sofrer depois. Sempre vale a pena amar e viver a experiência.
HBO Go
Matrix (1999) de Lana Wachowski e Lilly Wachowski
Puxou o início do texto, nada melhor do que indicá-lo. Mesmo com a definição de vírus, Neo nos mostra que vale a pena lutar pela humanidade.
GloboPlay
O sonho de Wadja (2013) de Haifaa Al-Mansour
Um filme que quebra tabus de maneira simples e contagiante, mostrando a realidade das mulheres na Arábia Saudita pela visão de uma menina.
Amazon Prime
Amigos para Sempre (2017) de Neil Burger
O original francês é melhor, mas sempre é válido ver uma nova versão dessa história.
Vimeo
Conheçam o trabalho da Olho de Vidro Produções, uma produtora baiana independente. Eles liberaram três curtas deles até o final de abril:
Estela, de Hilda Lopes Pontes
A Triste Figura, de Calebe Lopes
O Sorriso de Felícia, de Klaus Hastenreiter
P.S. Diariamente em nosso Instagram buscaremos também trazer uma dica de filme nacional, afinal, é importante valorizar o cinema brasileiro em um momento de crise. Sigam lá e dêem também suas sugestões.
Amanda Aouad
Crítica afiliada à Abraccine (Associação Brasileira de Críticos de Cinema), é doutora em Comunicação e Cultura Contemporâneas (Poscom / UFBA) e especialista em Cinema pela UCSal. Roteirista profissional desde 2005, é co-criadora do projeto A Guardiã, além da equipe do Núcleo Anima Bahia sendo roteirista de séries como "Turma da Harmonia", "Bill, o Touro" e "Tadinha". É ainda professora dos cursos de Jornalismo e Publicidade e Propaganda da Unifacs e da Uniceusa. Atualmente, faz parte da diretoria da Abraccine como secretária geral.
O que o cinema nos ensina
2020-03-25T18:25:00-03:00
Amanda Aouad
Especial|livro|materias|
Assinar:
Postar comentários (Atom)
cadastre-se
Inscreva seu email aqui e acompanhe
os filmes do cinema com a gente:
os filmes do cinema com a gente:
No Cinema podcast
anteriores deste site
mais populares do site
-
King Richard: Criando Campeãs (2021), dirigido por Reinaldo Marcus Green , é mais do que apenas uma cinebiografia : é um retrato emocionalm...
-
Cinema Sherlock Homes O filme de destaque atualmente é esta releitura do clássico do mistério pelas mãos de Guy Ritchie. O ex de Madonna p...
-
Clint Eastwood me conquistou aos poucos. Ele sabe como construir um filme que emociona e, agora, parece ter escolhido Matt Damon como seu ...
-
Eletrizante é a melhor palavra para definir esse filme de Tony Scott . Que o diretor sabe fazer filmes de ação não é novidade, mas uma tra...
-
O Soterópolis programa cultural da TVE Bahia, fez uma matéria muito interessante sobre blogs baianos. Esta que vos fala deu uma pequena con...
-
Olhando para A Múmia (1999), mais de duas décadas após seu lançamento, é fácil perceber como o filme se tornou um marco do final dos anos ...
-
Amor à Queima Roupa (1993), dirigido por Tony Scott e roteirizado por Quentin Tarantino , é um daqueles filmes que, ao longo dos anos, se...
-
O CinePipocaCult adverte: se você sofre de claustrofobia, síndrome do pânico ou problemas cardíacos é melhor evitar esse filme. Brincadeiras...
-
Fui ao cinema sem grandes pretensões. Não esperava um novo Matrix, nem mesmo um grande filme de ação. Difícil definir Gamer, que recebeu du...