No início dos anos 2000, aconteceu um fenômeno que foi apelidado de rolezinho. Jovens da periferia entravam nos shopping centers da cidade, em claro protesto por serem esses espaços segregacionistas de uma classe dominante branca. O documentário de Vladimir Seixas parte do resgate desse acontecimento para analisá-lo mais profundamente, construindo um retrato dinâmico, forte e necessário de um país racista e cruel.
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Rolê - Histórias dos rolezinhos
Rolê - Histórias dos rolezinhos
No início dos anos 2000, aconteceu um fenômeno que foi apelidado de rolezinho. Jovens da periferia entravam nos shopping centers da cidade, em claro protesto por serem esses espaços segregacionistas de uma classe dominante branca. O documentário de Vladimir Seixas parte do resgate desse acontecimento para analisá-lo mais profundamente, construindo um retrato dinâmico, forte e necessário de um país racista e cruel.
O roteiro consegue nos prender desde a primeira imagem e é hábil em nos conduzir em seu discurso. Traz imagens de arquivo, depoimentos, dispositivos de acompanhar algumas ações, inclusive na ilha de edição, além de construir um diálogo franco com os atores sociais do movimento. A ideia não é apenas documentar o evento, mas buscar compreender o que está por trás dele e suas consequências.
Quase vinte anos depois, os jovens de periferia, em especial negros, ainda não conseguem transitar tranquilamente pelos shoppings da cidade. Sempre seguidos de perto por seguranças, mal recebidos por vendedores, segregados pelos demais transeuntes. Eles não se calam mais e, com isso, vemos cenas de violência que podem levar a morte como o caso do senhor morto pelo segurança de um supermercado.
A progressão da obra pode parecer que o assunto muda em algum momento, já que o rolê em si perde o foco em determinado momento, mas tudo faz parte de um mesmo assunto. Racismo. E vícios de uma sociedade colonial e escravocrata. O que o documentário quer demonstrar é que, quando um negro “ousa invadir” o espaço da classe média alta branca, há consequências negativas para esses seres humanos que ainda são vistos como inferiores por um grupo.
Mais do que isso, há um racismo estrutural no nosso país que faz com que os funcionários do shopping não percebam que estão ali discriminando seus iguais em favor do “patrão”. Há várias questões que podem gerar debates frutíferos sobre comportamento social, efeito terceira pessoa, doutrinação e poder. O filme dá as pistas e as ferramentas, cabe a nós refletir e construir nosso raciocínio também.
Rolê - Histórias dos rolezinhos é uma obra feliz em suas escolhas. Há momentos marcantes como a manifestação das mulheres areando panelas com seus cabelos e um material de arquivo extremamente rico que ajuda a não ficar apenas no discurso. Vamos sendo convidados ao debate e sendo chamados a responsabilidade compreendendo qual o nosso papel nessa discussão. Fica a torcida para que não fiquemos apenas nisso e consigamos evoluir, de fato, enquanto sociedade.
Filme Visto no 10º Olhar de Cinema de Curitiba.
Rolê - Histórias dos rolezinhos
Direção: Vladimir Seixas
Roteiro: Vladimir Seixas
Duração: 82 min.

Amanda Aouad
Crítica afiliada à Abraccine (Associação Brasileira de Críticos de Cinema), é doutora em Comunicação e Cultura Contemporâneas (Poscom / UFBA) e especialista em Cinema pela UCSal. Roteirista profissional desde 2005, é co-criadora do projeto A Guardiã, além da equipe do Núcleo Anima Bahia sendo roteirista de séries como "Turma da Harmonia", "Bill, o Touro" e "Tadinha". É ainda professora dos cursos de Jornalismo e Publicidade e Propaganda da Unifacs e da Uniceusa. Atualmente, faz parte da diretoria da Abraccine como secretária geral.
Rolê - Histórias dos rolezinhos
2021-10-13T14:58:00-03:00
Amanda Aouad
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