“Quem um dia irá dizer que existe razão nas coisas feitas pelo coração. E quem irá dizer que não existe razão. “
Com estes versos, Renato Russo começa umas das músicas mais populares da Legião Urbana. Eduardo e Mônica narra a vida de um casal completamente diferente que, contra todas as probabilidades, deu certo. Como adoramos um romance, sempre imaginamos essa trama em diversos aspectos.
René Sampaio é bastante feliz na adaptação dessa história para as telas grandes. O diretor, que já tinha encabeçado o projeto do filmeFaroeste Caboclo, traz aqui uma adaptação criativa e envolvente, exatamente porque não se prende apenas à música. Até porque, os quatro minutos de Eduardo e Mônica, se fossem narrados literalmente, dariam um curta.
Mantendo como uma obra de época, a ambientação dos anos oitenta é bem construída e a ampliação da vida do casal protagonista encaixa bem. Conhecemos melhor quem é o avô que jogava futebol de botão com Eduardo e também ficamos sabendo de sua mãe. Assim como conhecemos um pouco da família de Mônica e o porquê dela ser tão "pra frente".
A estrutura do roteiro é de uma comédia romântica clássica, com todas as reviravoltas do gênero. Nos envolvemos com o casal e fica quase impossível não torcer pelo final feliz. O roteiro assinado por cinco roteiristas faz adaptações ainda nas informações que Renato Russo vai soltando durante a letra. Algumas simplesmente para não ficar uma tradução literal como "a Mônica queria ver um filme do Godard" vira um convite para uma mostra da Nouvelle Vague. E isso vira um gancho não apenas para demonstrar que Eduardo não sabe o que é o movimento francês, como trazer o fato de que ele "gosta de novela".
Outras adaptações são na estrutura mesmo das informações, algumas ordens trocadas, complementos, suspensão ou simplesmente abertura para outras interpretações, principalmente na parte final. Sem spoilers, mas é uma escolha bonita que traz um fechamento poético e que faz homenagens aos fãs do Legião.
O casal formado por Gabriel Leone e Alice Braga consegue construir uma boa química que nos ajuda a comprar a ideia daquele relacionamento improvável. É também uma construção gradual, não de forma instantânea como dá a entender a letra, com questionamentos de ambos os lados sobre a possibilidade de aquilo dar certo. Isso traz ainda mais verdade à trama e nos ajuda a construir a empatia necessária para seguir até o fim, mesmo imaginando o final.
Ambientado em um momento de reabertura política, há também alguns ecos cíclicos das discussões atuais, construindo diálogos com novas gerações. Isso é interessante, porque, ainda que não esteja na música, há indícios de algumas situações que chegam a nos dar uma sensação de "como não pensei nisso antes?". Ao mesmo tempo, abre espaço para reflexões.
Ao final, Eduardo e Mônica cumpre com as expectativas criadas. Um filme divertido, bem feito e com uma nostalgia boa que nos faz querer sair cantando ao final da sessão.