Predestinado - Arigó e o Espírito de Dr. Fritz

Desde o lançamento da cinebiografia de Bezerra de Menezes, filmes espíritas se tornaram quase um gênero no Brasil. Diversas obras começaram a surgir, alguns com destaque na crítica especializada como o filme sobre Chico Xavier, algumas que chamaram a atenção pelos efeitos e investimento como Nosso Lar, mas todos com sucesso de público. Predestinado - Arigó e o Espírito de Dr. Fritz não é exatamente um filme espírita, mas foca no mesmo público. 

Sim, Arigó era um médium e veículo do espírito de Dr. Fritz para realizar operações espirituais que eram verdadeiros milagres. Mas isso não faz dele espírita, nem mesmo a obra. É importante pontuar. Talvez isso acabe sendo um ponto positivo, já que boa parte dos filmes espíritas acabavam preocupando-se mais com a doutrina do que com a dramaturgia da obra. 

O filme dirigido por Gustavo Fernandez é um suspense. A tensão, a narrativa dosada, a imagem impactante para depois explicar estão desde a primeira cena. A atmosfera sobrenatural paira pelas cenas da operação espiritual, que eram bastante viscerais, com sangue, abertura de corpos e outros procedimentos apresentados de maneira explícita. Há um realismo dos relatos e imagens da época que impressionam. 

O médium mineiro era um homem simples, que se dizia católico e lutou desde a infância contra os fenômenos que o atormentavam. Interpretado com competência por Danton Mello, vai se transformando durante a projeção em uma pessoa resignada, diante de uma missão maior que ele. Como se pedisse desculpas por existir, Arigó vai realizando suas operações reforçando o tempo todo que não cura ninguém, que quem cura é Deus através do Dr. Fritz. 

O filme busca trazer essa verdade para a tela, independente de nos querer fazer crer ou não em algo, muito menos nos converter aos princípios da doutrina Espírita (religião, ciência e filosofia) que nem sequer é citada na trama. Mesmo quando Chico Xavier, o outro médium mineiro famoso, surge em tela, em uma cena quase sobrenatural e deslocada do restante da narrativa. O roteiro de Jaqueline Vargas se atém ao homem, ao fenômeno e a sua história. 

É importante diferenciar fenômenos mediúnicos da religião codificada por Allan Kardec na França. E, ainda que não entre na questão de maneira clara, o filme procura tratar a mediunidade como algo a ser pesquisado e estudado, independentemente de religião, vide os cientistas estadunidenses que ali surgem. Ao contrário de Chico Xavier, por exemplo, que tinha sessões de estudo do evangelho e comunicações com os espíritos mentores. O fogo de Arigó e Dr. Fritz é apenas a medicina. 

Contando ainda com nomes como Juliana Paes, Alexandre Borges, Marcos Caruso, Marco Ricca, João Signorelli no elenco, Predestinado consegue prender a atenção do público para o que interessa: a narrativa e a linguagem cinematográfica. Somos cativados pela história instigante, nos impressionamos com os fenômenos, criamos empatia com o protagonista torcendo por ele e nos indignando com a perseguição que sofre. Assim como somos envolvidos pelos efeitos de suspense que nos deixam presos à cadeira.

No final, a obra consegue alcançar seu êxito. Ainda que existam controvérsias no caso e que Arigó seja apenas o primeiro médium a receber o espírito do Dr. Fritz, inaugurando uma espécie de maldição dos mesmos, a história e os feitos realizados impressionam.

Predestinado - Arigó e o Espírito de Dr. Fritz (Brasil, 2022) 

Direção: Gustavo Fernandez 

Roteiro: Jaqueline Vargas 

Com: Danton Mello, Juliana Paes, Alexandre Borges, Marcos Caruso, Cássio Gabus Mendes, João Signorelli, Marco Ricca 

Duração: 100 min