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Os Banshees de Inisherin

Os Banshees de Inisherin filme

Ao contrário de um relacionamento amoroso, uma amizade não tem um pacto inicial nem final muito claro. Ninguém diz “quer seu meu amigo”, muito menos “quero terminar nossa amizade”. É algo que simplesmente vai acontecendo, seja uma aproximação ou um afastamento por afinidade, interesses em comum e um amor fraterno incondicional. É triste e doloroso quando uma amizade termina por falta de interesse de apenas uma parte, pois fica uma sensação estranha no ar de não compreensão do outro. O que mudou? O que fiz? Como posso reverter isso? 

Os Banshees de Inisherin é um filme estranho, como todos de Martin McDonagh. Estranho, nesse sentido, meio nonsense, exagerado, que causa uma angústia imensa em quem assiste. Mas aqui, ele consegue transitar bem entre o trágico e o cômico com construção de sensações e sentimentos fortes de uma amizade interrompida sem motivo aparente. Pelo sentimento de rejeição e inconformação de uma das partes e por uma intransigência quase doentia da outra. Até porque Colm (Brendan Gleeson) demonstra em diversos momento se importar com Pádraic (Colin Farrell). Mas simplesmente se recusa a voltar a ser seu amigo, a seguir aquela rotina, para ele, vazia que antes fazia sentido para ambos.
 
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Nesse duelo de sentimentos e vontades destaca-se exatamente a atuação de Colin Farrell e Brendan Gleeson entregues de uma maneira ímpar àquele sentimento de dor que vai se tornando rancor. Afinal, amor e ódio não são opostos, são sentimentos equivalentes, duas faces de uma mesma moeda. E a rejeição nos faz odiar aquele que nos rejeita. Gleeson constrói um tom aparentemente neutro diante da situação, mas que demonstra os sentimentos de Colm nos pequenos gestos, como um olhar quando apanha do policial, ou quando descobre a consequência trágica de um ato seu. 

Já Colin Farrell exacerba seus sentimentos de incompreensão de uma maneira extremamente feliz, sem se tornar over. Sua dor pela perda do amigo, seu vazio diante da recusa do outro, sua angústia nos desdobramentos de sua teimosia e, claro, a dor de um momento chave, vão nos conduzindo a seu ponto de vista de uma maneira única. De fato, sua melhor atuação até aqui. 

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Martin McDonagh utiliza a bucólica paisagem da pequena cidade irlandesa para contrastar o cenário quase anticlimático onde nada parece acontecer com a ebulição de sentimentos e conflitos gerados a partir de um pequeno gesto: um amigo simplesmente parar de falar com o outro. A progressão dramática vai escalando as consequências disso, transformando o que seriam metáforas em consequências práticas que saltam à tela entre angústia e perplexidade. 

Destaque ainda para os coadjuvantes, em especial a irmã, interpretada por Kerry Condon, e o jovem Dominic, interpretado por Barry Keoghan. Mas cada estranho personagem ajuda na construção do clima tenso e no estranhamento daquela trama como a vidente trágica, a insistente fofoqueira da vila, o intrometido padre e o dono do bar amigável. 

Paradoxalmente, Os Banshees de Inisherin é talvez o filme mais realista de Martin McDonagh. Exagera no tom e nos símbolos, construindo situações extremas que beiram o absurdo, mas acabam por traduzir um sentimento de desespero e inconformidade diante da dolorosa rejeição de um amigo. Afinal, como diria Vinicius de Morais: “Eu poderia suportar, embora não sem dor, que tivessem morrido todos os meus amores, mas enlouqueceria se morressem todos os meus amigos!” É um filme que nos demonstra isso, literalmente.



Os Banshees de Inisherin (2023, EUA)
Direção: Martin McDonagh
Roteiro: Martin McDonagh
Com: Brendan Gleeson, Colin Farrell, Kerry Condon, Barry Keoghan
Duração: 114 min.

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