Synchronic, dirigido por Justin Benson e Aaron Moorhead, é um filme que evoca a fascinante premissa da viagem no tempo e mistura elementos de ficção científica com drama pessoal. No entanto, apesar de seu potencial inicial, o longa-metragem acaba perdendo-se em sua própria ambição, resultando em uma narrativa que não consegue cumprir todas as suas promessas.
Synchronic inicia-se com uma premissa intrigante, apresentando-nos Steve (Anthony Mackie) e Dennis (Jamie Dornan), dois paramédicos que se deparam com uma série de mortes misteriosas relacionadas a uma nova droga sintética chamada "Synchronic". A partir daí, somos imersos em uma jornada alucinante enquanto a dupla investiga a origem da droga e suas implicações, acreditem, no tecido temporal.
Um dos momentos mais marcantes de Synchronic é exatamente seu prólogo, que estabelece as bases do conceito do filme de maneira provocativa. Através de uma encenação visualmente desorientadora e de uma fotografia que contrasta ambientes distintos, Benson e Moorhead conseguem transmitir uma sensação de desorientação temporal e espacial, fazendo com que o espectador mergulhe na atmosfera do filme. No entanto, essa qualidade inicial não se mantém ao longo da narrativa, deixando uma sensação de frustração para aqueles que esperavam uma exploração mais profunda e consistente das possibilidades da viagem no tempo.
É como se, conforme a narrativa se desenrola, Synchronic perdesse seu fôlego inicial. A transição abrupta do filme, deixando de explorar sua premissa imaginativa e sensorial, para se concentrar em questões familiares e pessoais, é um ponto de inflexão decepcionante. Essa mudança de tom e enfoque acaba comprometendo o impacto emocional e a unidade da obra, deixando a sensação de que algo se perdeu ao longo do caminho.
As atuações de Anthony Mackie e Jamie Dornan são dignas de nota, porém as personagens não recebem o desenvolvimento adequado. Mackie, em particular, traz uma performance sólida como Steve, explorando as nuances de um personagem que enfrenta seus próprios problemas enquanto lida com a descoberta da droga temporal. E é nas suas viagens no tempo que entendemos melhor a história que Justin Benson quer nos contar. A sua tese mira no desenvolvimento histórico violento e racista dos Estados Unidos, mas coloca Steve, apesar dos seus dramas pessoais ou por causa deles, como mais uma personagem negra a serviço de um homem branco. Algo lamentável, principalmente em sua parte final.
Com seu conceito rocambolesco e a necessidade de explicar exaustivamente as definições do tempo, Synchronic parece se inspirar em obras como as de Christopher Nolan, mas acaba não alcançando o mesmo senso de escala e habilidade narrativa. Faltam as virtudes que tornam as narrativas de Nolan intensas e capazes de mobilizar os sentidos e sobram furos no roteiro. Ainda assim, é importante mencionar que Synchronic possui momentos marcantes e uma direção competente de Justin Benson e Aaron Moorhead. Em termos técnicos, a cinematografia de Synchronic merece destaque, especialmente em sua habilidade de contrastar ambientes e criar uma atmosfera visual distintiva. A trilha sonora, embora discreta, contribui para a imersão na história, proporcionando momentos de tensão e reflexão.
No geral, Synchronic é um filme que apresenta boas ideias, mas falha em explorá-las plenamente e, além de não conseguir defender a tese que parece querer demonstrar, se coloca numa linha racial tênue ao traçar as escolhas dos seus protagonistas contrariando essa mesma tese. Ainda assim, pode proporcionar uma experiência interessante para os fãs de ficção científica. No entanto, é importante estar ciente das limitações narrativas e do desvio da premissa e teses iniciais. Com um olhar crítico, é possível apreciar alguns dos momentos marcantes e aspectos técnicos do filme, mas a sensação de oportunidade perdida para um grande filme e uma grande discussão é palpável.
Synchronic (Synchronic - 2019, EUA)