O cinema brasileiro sempre nos surpreende com produções singulares e talentosos cineastas que deixam sua marca na sétima arte. Um exemplo notável é Jorge Furtado, diretor e roteirista gaúcho, conhecido por suas obras originais e de grande qualidade. Em seu segundo longa-metragem, O Homem que Copiava (2003), Furtado mais uma vez demonstra sua genialidade e nos presenteia com uma narrativa envolvente, repleta de diálogos afiados e uma reviravolta surpreendente.
O filme nos apresenta André, vivido brilhantemente por Lázaro Ramos, um jovem tímido e desajeitado que trabalha como operador de fotocopiadora em uma papelaria de Porto Alegre. Com um salário modesto, André leva uma vida monótona e sonha em conquistar o coração de Sílvia, interpretada por Leandra Leal, a vizinha por quem ele nutre uma paixão secreta. Para impressioná-la, ele decide falsificar dinheiro, o que dá início a uma série de eventos que colocam sua vida em risco e revelam os lados mais sombrios de outras personagens.
As atuações são um ponto alto do filme. Lázaro Ramos entrega uma performance envolvente, capturando perfeitamente a timidez e a vulnerabilidade de seu personagem. Sua habilidade em transmitir emoções sutis através de olhares e gestos impressiona os mais observadores. Leandra Leal traz charme e carisma para a personagem de Sílvia, conquistando o espectador com sua doçura e presença de tela. Além disso, o elenco coadjuvante, incluindo Luana Piovani e Pedro Cardoso, trazem leveza e comicidade às cenas, criando uma química perfeita entre os personagens.
A direção de Jorge Furtado é impecável. Com uma abordagem despretensiosa, ele nos conduz pela história de forma fluída e envolvente. Furtado sabe dosar os momentos de humor com momentos de tensão, criando um equilíbrio narrativo que prende a atenção do público. Sua sensibilidade ao explorar os detalhes cotidianos da vida de André e sua habilidade em construir diálogos inteligentes e perspicazes fazem com que nos identifiquemos e nos tornemos cúmplices do protagonista, torcendo por ele a cada passo do caminho.
Um dos momentos marcantes do filme é a reviravolta final, que pega o espectador de surpresa. Sem revelar spoilers, podemos dizer que Furtado nos presenteia com uma reviravolta inteligente e impactante, que redefine nossa percepção de toda a trama. Essa reviravolta ressalta a genialidade do roteiro e a habilidade do diretor em conduzir a narrativa de forma a manter o público intrigado até o último minuto. Acredito que muita gente resolveu assistir de novo o longa só pra ver se estava tudo nos seus lugares.
Destaque também para os diálogos afiados e perspicazes presentes ao longo do filme. As conversas entre os personagens são um verdadeiro deleite, repletas de ironia, humor e reflexões. Furtado utiliza os diálogos como ferramenta para explorar temas como amor, honestidade, preconceito e ambição, adicionando camadas e mais camadas de profundidade à trama.
A cumplicidade estabelecida entre o protagonista e o espectador é um aspecto a se destacar em O Homem que Copiava. Através da narração em off de André, somos convidados a mergulhar em seus pensamentos e emoções mais íntimas logo nos primeiros minutos de filme. O fluxo de pensamento furioso do personagem, saltando de um assunto a outro, mantém nossa atenção e nos conecta ainda mais à sua jornada. Essa conexão emocional nos faz torcer por André, nos identificando com suas aspirações e anseios.
Além disso, é impossível não mencionar a inventividade visual presente na direção de Furtado. A utilização de recursos visuais, como a representação das diferentes perspectivas através do espelho no quarto de Sílvia, criando um efeito interessante e imersivo. As sequências em animação, produzidas pela Toscographics, adicionam um toque lúdico à narrativa e acrescentam ainda mais camadas à experiência cinematográfica.
O Homem que Copiava é uma obra-prima do cinema brasileiro. Jorge Furtado prova mais uma vez sua genialidade e habilidade em contar histórias de forma envolvente e original. Uma comédia dramática que vai muito além do entretenimento, nos fazendo refletir sobre a vida, as escolhas que fazemos e os caminhos que seguimos. Imperdível para os amantes do cinema nacional e uma prova do talento de Jorge Furtado como diretor e roteirista.
Direção: Jorge Furtado
Roteiro: Jorge Furtado
Com: Lázaro Ramos, Leandra Leal, Luana Piovani, Pedro Cardoso
Duração: 123 min.