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Anatomia de uma Queda
Anatomia de uma Queda
Um corpo caído na neve, nenhuma certeza e diversas teorias. A obra de Justine Triet tem todos os elementos para nos instigar a curiosidade e a mania incontrolável de julgar as aparências. Mas o que mais chama a atenção em Anatomia de uma Queda é a forma como ela nos conduz naquela história.
Não há um único ponto de vista. Quando a cena abre, vemos Sandra sentada em sua poltrona perguntando o que queremos saber. A pergunta dúbia, na verdade, é para a jovem que a entrevista, mas é uma excelente escolha de apresentação de personagem. Diz tudo e ao mesmo tempo nada, já que aquela mulher não está ali se expondo de verdade.
A escolha de sair dali deixando o hiato sobre o ocorrido e nos dando apenas o ponto de vista do filho do casal em seu passeio com o cão e o retorno, encontrando o pai morto no chão, deixa tudo ainda mais instigante. Afinal, o que aconteceu? Ele caiu? Se jogou? Ou foi derrubado pela esposa? A verdade é o que menos importa.
A trama se desenvolve nas suposições e estas são sempre mais curiosas que a própria verdade, pois falam sobre nós, a plateia, nossas certezas e nossa capacidade de julgar pelo que temos de visão sobre o mundo. As certezas dos advogados, da imprensa, das testemunhas, do filho do casal. Todas frágeis e inspiradas em suposições.
Anatomia de uma Queda fala desse mundo de aparências. Dessa incapacidade de se aproximar verdadeiramente do outro, de julgar pela superfície. E mesmo do não interesse em saber realmente a verdade, mas sim, em defender um ponto de vista. A direção de Justine Triet é precisa em nos conduzir nessa superfície, aprofundando nossas próprias crenças e pouco nos aproximando de fato de Sandra.
A interpretação de Sandra Huller ajuda muito nesse afastamento, conduzindo sempre a personagem em um tom frio, mesmo nos momentos de maior emoção. Essa incapacidade de alteração ou mesmo entrega às emoções acaba sendo um indício de que ela dificilmente chegaria ao extremo de matar o marido em um acesso de fúria. Mas pode ser também um sinal de que teria frieza para cometer tal ato.
O fato é que, entre acontecimentos pontuais na casa e durante toda a investigação, nos sentimos presos àquela história. O ritmo da projeção nos envolve e nos sentimos ali na plateia, torcendo por um desfecho satisfatório. E tal qual a vida, nada é mesmo definitivo.
Anatomia de uma Queda (Anatomie d’une chute, 2024 / França)
Direção: Justine Triet
Roteiro: Justine Triet, Arthur Harari
Com: Sandra Huller, Swann Arlaud, Milo Machado-Graner, Antoine Reinartz
Duração: 151 min.
Amanda Aouad
Crítica afiliada à Abraccine (Associação Brasileira de Críticos de Cinema), é doutora em Comunicação e Cultura Contemporâneas (Poscom / UFBA) e especialista em Cinema pela UCSal. Roteirista profissional desde 2005, é co-criadora do projeto A Guardiã, além da equipe do Núcleo Anima Bahia sendo roteirista de séries como "Turma da Harmonia", "Bill, o Touro" e "Tadinha". É ainda professora dos cursos de Jornalismo e Publicidade e Propaganda da Unifacs e da Uniceusa. Atualmente, faz parte da diretoria da Abraccine como secretária geral.
Anatomia de uma Queda
2024-02-22T08:30:00-03:00
Amanda Aouad
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