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Nimona
Nimona
Arquétipos são construções tal qual suas histórias, seus feitos, sua jornada. Está um pouco no inconsciente coletivo essa ideia de que o heroísmo não é feito só de atitudes, mas também conta sua origem. Um herói grego, por exemplo, é um semideus, filho de um humano com um dos deuses do Olimpo. Quando essa “regra” é quebrada, no entanto, o que faz um herói ou um vilão pode ser, simplesmente, um ponto de vista.
Em um mundo que mistura conceitos medievais com futuristas tecnológicos, Ballister é esse homem que vai quebrar as regras. Primeiro plebeu a ser consagrado um cavaleiro da rainha, entrando para o clã dos protetores do reino contra monstros que vivem na floresta. No dia da cerimônia, no entanto, sua espada solta um raio que mata a rainha, tornando-o um regicida procurado. Agora ele só pode contar com a ajuda de Nimona, um ser metamorfo que também é temido por todos.
A maneira como o roteiro apresenta Nimona é bastante instigante. É apenas uma menina, com uma certa empolgação, deslumbrada com a possibilidade de ser alguém importante, mesmo que esse alguém seja o vilão da história. Aos poucos, vamos aprofundando as camadas e nos surpreendendo com sua história e tudo que carrega por trás daquelas máscaras. Esse é um dos pontos fortes do filme que nos faz questionar a todo momento o conceito de humanidade e os preconceitos com o diferente.
Tememos o que não conhecemos. Isso é fato. Manter a realidade estabelecida, mesmo que não seja tão boa, é uma segurança confortável. Questionar regras é perigoso. Por mais que tenhamos impulsos de mudança, queremos o que já está ali. Sem saber que, muitas vezes, no novo, o diferente, pode ser melhor. Ninguém ali no reino parece ter disposição para questionar o estabelecido, nem mesmo em tentar entender o que tem por trás daqueles muros. O que é passado pelo controle é aceito.
A trama nos faz refletir também sobre as fake news, a maneira como a sociedade pode ser manipulada por informação com enquadramento tendencioso, inclusive em tempos de AI. Afinal, que é a verdade? Até que ponto uma imagem pode ser a prova de algo? Uma mentira contada diversas vezes por gerações, pode se tornar verdade? Como são construídas as lendas e mitos? São questões que vão sendo trabalhadas nem precisar de didatismo ou exposição em excesso. Tudo é bastante orgânico e coerente. Mesmo os clichês, como quem está por trás de um certo acontecimento, se torna fluido e crível.
A direção de arte também chama a atenção, misturando elementos medievais com futuristas. As armaduras, estrutura do reino, mescladas com objetos tecnológicos funcionam bem na construção daquele universo fílmico. O ritmo da aventura também ajuda nessa construção entre passado e futuro, nos envolvendo durante a projeção e sendo capaz de nos surpreender, emocionar e divertir.
Destaque ainda para a maneira com a qual o roteiro trabalha com a diversidade, trazendo o amor homoafetivo entre dois cavaleiros de maneira sensível, naturalizando a situação por mais que exista um ou outro indício de preconceito. É curioso também a maneira como esse tema tem reverberação no passado também, de maneira sutil, mas que nos faz pensar nas metáforas também do que representa Nimona, sua ameaça e sua capacidade de se transformar.
Baseada em uma webcomic, o projeto de Nimona ficou no limbo por algum tempo, após o fechamento da Blue Sky Studios. Uma pena que a Disney não tenha tido a visão e sensibilidade para mantê-la, mas ainda bem que a Netflix resgatou-a junto com o estúdio independente Annapurna Pictures. Uma obra que nos faz pensar ao mesmo tempo em que diverte, quebrando preconceitos e marcando a história da animação mundial.
Nimona (Nimona, 2023 / Estados Unidos)
Direção: Nick Bruno, Troy Quane
Roteiro: Nick Bruno, Troy Quane, Marc Haimes, Keith Bunin
Voz: Chloë Grace Moretz, Riz Ahmed, Eugene Lee Yang
Duração: 101 min.
Amanda Aouad
Crítica afiliada à Abraccine (Associação Brasileira de Críticos de Cinema), é doutora em Comunicação e Cultura Contemporâneas (Poscom / UFBA) e especialista em Cinema pela UCSal. Roteirista profissional desde 2005, é co-criadora do projeto A Guardiã, além da equipe do Núcleo Anima Bahia sendo roteirista de séries como "Turma da Harmonia", "Bill, o Touro" e "Tadinha". É ainda professora dos cursos de Jornalismo e Publicidade e Propaganda da Unifacs e da Uniceusa. Atualmente, faz parte da diretoria da Abraccine como secretária geral.
Nimona
2024-02-29T08:30:00-03:00
Amanda Aouad
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