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O Primeiro Homem

O Primeiro Homem - filme

Em seu quarto longa-metragem, Damien Chazelle, conhecido por suas incursões musicais de sucesso, surpreende ao abandonar o território da melodia para mergulhar nas estrelas com O Primeiro Homem, baseado em biografia de James R. Hansen. A película, que explora a vida de Neil Armstrong, o primeiro homem a caminhar na Lua, revela uma abordagem íntima e desmistificadora do programa espacial, escapando dos clichês heróicos para adentrar os confins emocionais e físicos enfrentados pelos astronautas.
Chazelle e o roteirista Josh Singer optam por uma narrativa que se inicia com um evento traumático na vida de Armstrong, a perda de sua filha pequena para um tumor cerebral. Essa escolha oferece uma chave emocional única para entender toda a jornada do astronauta, destacando a busca por significado em meio às vastidões cósmicas. A abordagem íntima contrasta com muitas produções espaciais, despojando o glamour e expondo os desafios mundanos e claustrofóbicos dos veículos espaciais.

O Primeiro Homem - filme
Ryan Gosling
, conhecido por uma impassividade clássica, se revela a escolha mais acertada para encarnar Armstrong. Sua interpretação reticente e reservada reflete a natureza enigmática do astronauta. Claire Foy, como Janet Armstrong, adiciona força ao filme, representando o suporte emocional nos bastidores do heroísmo espacial. No entanto, a decisão de focar exclusivamente em Neil deixa os demais personagens à margem, com pouco ou nenhum desenvolvimento.

Chazelle, conhecido por sua destreza técnica, adota uma estética que humaniza a missão espacial. Linus Sandgren, diretor de fotografia, cria uma atmosfera lúgubre e pesada, especialmente nas sequências interiores, contrastando com o tradicional brilho épico de outros filmes do gênero. A opção pela câmera próxima, em close-ups desconfortáveis, intensifica a busca por emoções nos rostos dos personagens, desafiando a típica grandiosidade visual do espaço.

O Primeiro Homem - filme
A verdadeira proeza técnica e narrativa ocorre na sequência da Gemini 8, onde somos transportados para a claustrofobia e caos do espaço. A câmera na mão, os rebites à mostra e a profusão de botões criam uma experiência sensorial única. Chazelle desmistifica o glamour espacial, revelando um universo de protocolos e procedimentos para disfarçar a ausência de ordem.

O ápice do filme, a caminhada lunar, é notável não pela grandiosidade, mas pela ausência de trilha sonora e efeitos sonoros. Chazelle transforma o formato widescreen em IMAX, destacando a amplitude do feito, mas mantendo a humanidade no centro. A frase icônica de Armstrong, "Um pequeno passo para o homem, um grande salto para a humanidade", ganha profundidade ao ressoar não apenas como um feito coletivo, mas como o resultado de esforços individuais e sacrifícios.

O filme brilha ao humanizar a jornada espacial, oferecendo uma visão poética e trágica da vida de Armstrong. A escolha de focar exclusivamente no protagonista, embora compreensível, resulta em personagens secundários pouco desenvolvidos. A progressão narrativa, especialmente entre a Gemini 8 e a Apollo 11, torna-se arrastada, prejudicando o ritmo do filme.

O Primeiro Homem, a meu ver, superou as expectativas, desafiando várias convenções do cinema espacial. Chazelle, em sua incursão não musical, entrega uma obra que não busca apenas glorificar, mas explorar os desafios e sacrifícios por trás de um dos maiores feitos da humanidade. Com sua estética única, atuações cativantes e uma perspectiva inovadora, o filme oferece uma reflexão humana e visceral sobre a jornada até a Lua. Uma ode não apenas à conquista espacial, mas à complexidade da resposta do espírito humano diante do desconhecido.


O Primeiro Homem (First Man, 2018 / EUA)
Direção: Damien Chazelle
Roteiro: Josh Singer
Com: Ryan Gosling, Claire Foy, Jason Clarke, Kyle Chandler, Corey Stoll, Patrick Fugit, Christopher Abbott, Ciarán Hinds
Duração: 141 min.

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