Elementos, Soul, Dois Irmãos, Toy Story 4. Há tempos o estúdio da Pixar não nos brinda com uma obra realmente empolgante, ainda que a qualidade fílmica siga sempre um bom padrão. Divertida Mente 2 consegue dar esse passo além, construindo uma continuação digna da primeira que acrescenta não apenas emoções, mas também sentido e atinge a todos os públicos, em especial, aqueles que cresceram junto com a Riley.
“Somos emoções reprimidas”, diz o Medo em determinado momento. Essa é uma frase que resume um pouco a trama do segundo filme e nos dá material para alguns anos de terapia. Se, no primeiro filme, as emoções básicas controlavam o painel da pequena garota que teve que se mudar de cidade. Agora, a situação se complexifica um pouco com a chegada da adolescência. E, claro, a Ansiedade toma conta de tudo já na chegada.
Há uma base psicológica imensa no roteiro. A maneira como as emoções vão sendo substituídas, as ilhas vão se construindo e, em especial, a personalidade vai se formando é uma aula de psiquê. Passa um filme em nossa mente, observando o quanto vamos, de fato, agindo por impulso, reprimindo emoções e tomando decisões erradas na tentativa de sermos aceitos em sociedade.
Quando somos crianças tudo é muito imediato. As emoções vão e vem em momentos da vida. À medida que crescemos esses momentos vão deixando marcas em nossa personalidade. Vamos aprendendo que aquilo não apenas está sendo, mas é, como se fosse algo definitivo. E nossos diálogos internos vão moldando nossas atitudes, rememorando traumas, reforçando crenças, nos dizendo a todo tempo o que somos e o que queremos.
É isso que Divertida Mente 2 nos mostra em tela de maneira tão lúdica. a personalidade de Riley foi moldada pelo esforço da Alegria de só manter as coisas boas impressas, mas isso não se sustenta por muito tempo, afinal, o que é lançado para o fundo da mente pode emergir a qualquer momento. Em especial, quando a Ansiedade toma a frente. E aí vem da pior maneira, porque não tem equilíbrio. Ou está tudo perfeito, ou está tudo péssimo.
O filme acerta ao conduzir essa verdadeira viagem de autoconhecimento com momentos extremamente irônicos e divertidos. Algo que não tinha no primeiro filme e funcionou muito bem aqui foram os pequenos momentos da mente dos pais, adicionando não apenas uma graça ou piada, mas também ampliando a própria consciência de como age uma mãe e um pai às mudanças da filha.
Impressiona também a economia narrativa. Apesar de a Ansiedade chegar com tudo, a Inveja, o Tédio e a Vergonha conseguem ter seu papel. E a Alegria e a Tristeza não perdem seu protagonismo, tendo espaço também para Raiva, Medo e Nojinho. Até mesmo a Nostalgia, que ainda não teve seu momento de entrar em cena, marca sua presença de maneira divertida. Destaque também para a dublagem em português, em especial Tatá Werneck que cai como uma luva para ansiedade.
Divertida Mente 2 consegue ampliar a história que criou no primeiro filme com bastante competência. É divertida, faz refletir, emociona e se encaixa em diversas fases de nossa vida. Ironicamente, talvez, seja menos acessível para as crianças que ainda estão lá nas emoções básicas. Mas as cores, piadas e correria podem ajudar a entretê-las também.
Ah, e se não tiver pressa de sair do cinema, tem uma piadinha pós créditos que vale a curiosidade.
Divertida Mente 2 (2024, EUA)
Direção: Kelsey Mann
Roteiro: Meg LeFauve, Dave Holstein
Vozes: Tatá Werneck, Dani Calabresa, Miá Mello, Leo Jaime, Katiuscia Canoro, Otaviano Costa
Duração: 96 min.