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Barbarella

Barbarella - filme

Barbarella
, lançado em 1968, é um filme que desafia categorizações fáceis, mesclando ficção científica, erotismo e comédia de uma maneira que só poderia ter surgido na atmosfera culturalmente revolucionária dos anos 60. Dirigido por Roger Vadim e estrelado por Jane Fonda, o filme é uma adaptação do quadrinho francês de Jean-Claude Forest, uma obra que já carregava consigo uma significativa carga de subversão e provocação.

Jean-Claude Forest, cuja obra de 1962 trouxe à tona uma nova era de quadrinhos eróticos na Europa, foi um visionário que influenciou uma geração de desenhistas e escritores. A heroína Barbarella não apenas quebrou tabus com sua sexualidade franca e desinibida, mas também refletiu o espírito livre e rebelde da juventude dos anos 60. Foi uma era marcada por movimentos contraculturais como o hippie, a revolução sexual e a música de vanguarda, todos capturados de maneira única no filme.

Jane Fonda, que assumiu o papel principal depois que Brigitte Bardot e Sophia Loren recusaram, trouxe à personagem uma combinação de inocência e sensualidade. Fonda, já uma figura reconhecida em Hollywood, transformou-se em um ícone sexual e cultural através de Barbarella. A performance de Fonda é marcada por uma dualidade intrigante: ela interpreta Barbarella como uma exploradora ingênua, mas ao mesmo tempo, como uma mulher segura de sua própria sexualidade. Essa ambiguidade adiciona camadas à personagem e permite que Fonda se destaque em um papel que poderia facilmente ter sido unidimensional.

Barbarella - filme
Roger Vadim
, famoso por E Deus Criou a Mulher (1956), onde lançou sua então esposa Brigitte Bardot ao estrelato, repete aqui uma fórmula de explorar a sensualidade de sua protagonista, agora com Jane Fonda. Conhecido por seu estilo provocativo e por seu olho estético, o diretor cria em Barbarella um universo visualmente deslumbrante, mesmo que por vezes exageradamente kitsch. A direção de Vadim é caracterizada por uma abordagem livre e experimental, o que se alinha perfeitamente com a natureza escapista e surreal do filme.

A trama de Barbarella é simples, mas repleta de situações bizarras e personagens extravagantes. Barbarella é enviada em uma missão pelo presidente da Terra para encontrar e deter o cientista renegado Durand Durand (sim, inspiração para o nome da banda Duran Duran), que está em posse de uma arma de destruição em massa. Durante sua jornada, Barbarella encontra uma série de aliados inusitados, como o anjo cego Pygar, interpretado por John Phillip Law, o revolucionário desajeitado Dildano (David Hemmings) e o bizarro Professor Ping, vivido pelo famoso mímico Marcel Marceau.

A performance de John Phillip Law como Pygar é peculiarmente charmosa. Law interpreta o anjo cego com uma seriedade quase comovente, apesar do roteiro e da ambientação absurda. Sua serenidade e dedicação ao papel conferem um toque dramático que contrasta com o tom cômico do filme. David Hemmings, já conhecido por seu trabalho em Blow-Up (1966), traz uma energia cômica necessária ao papel de Dildano, enquanto Anita Pallenberg, como a Rainha Negra, adiciona um toque de malícia e sensualidade, destacando-se em um elenco já repleto de figuras memoráveis.

Barbarella - filme
Musicalmente, Barbarella é uma viagem por si só. A trilha sonora, composta por Bob Crewe e Charles Fox, é uma fusão de baladas psicodélicas e arranjos orquestrais que encapsulam perfeitamente o espírito da época. A banda The Glitterhouse, que participou da trilha sonora, adiciona uma camada extra de autenticidade ao som dos anos 60. A cena de abertura, onde Barbarella flutua em gravidade zero realizando um striptease ao som de uma balada sensual, continua a ser uma das sequências mais lembradas do filme.

No entanto, o roteiro de Barbarella é frequentemente confuso e disperso. A narrativa é uma colcha de retalhos de aventuras episódicas que, embora divertidas, carecem de coesão. A produção, apesar de sua inventividade, muitas vezes esbarra no brega, com efeitos especiais que hoje parecem datados e cenários que mais se assemelham a produções teatrais.

Apesar disso, Barbarella se sustenta como um clássico cult. A capacidade do filme de capturar o zeitgeist dos anos 60 e transformar suas limitações em um estilo único é notável. É um filme que deve ser apreciado com uma mente aberta, disposto a abraçar seu surrealismo e seu charme kitsch.

Barbarella deixou um legado na cultura pop. A banda Duran Duran, nomeada em homenagem ao vilão do filme, e o videoclipe de Kylie Minogue para "Put Yourself in My Place" (1994), que recria a cena de abertura do filme, são testemunhos da influência de Barbarella. Esses exemplos mostram como o filme superou seu status inicial de fracasso de bilheteria para se tornar um ícone.

Barbarella é um filme que desafia as expectativas tradicionais de narrativa e produção cinematográfica. É uma obra que captura a essência de uma época e continua a fascinar e influenciar novas gerações de espectadores e criadores. A performance de Jane Fonda, a direção de Roger Vadim e sua atmosfera psicodélica tornam Barbarella um filme importante, digno do status de um dos maiores clássicos cult até hoje.


Barbarella (Barbarella, 1968 / França, Itália)
Direção: Roger Vadim
Roteiro: Terry Southern, Roger Vadim, Claude Brulé, Vittorio Bonicelli, Clement Biddle Wood, Brian Degas, Tudor Gates, Jean-Claude Forest 
Com: Jane Fonda, John Phillip Law, Anita Pallenberg, Milo O’Shea, Marcel Marceau, Claude Dauphin
Duração: 98 min.

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