Home
Augusto Madeira
Bruna Mascarenhas
Bruno Garcia
christian malheiros
cinema brasileiro
critica
filme brasileiro
Giovanna Grigio
Marco Pigossi
Maurício Eça
Mel Lisboa
Silvero Pereira
true crime
Xamã
Maníaco do Parque
Maníaco do Parque
O filme Maníaco do Parque, uma produção do Prime Video dirigida por Maurício Eça, propõe-se a revisitar um dos casos criminais mais assustadores da história brasileira. Nos anos 1990, Francisco de Assis Pereira, o infame Maníaco do Parque, foi condenado por uma série de crimes brutais contra mulheres, cujas mortes e agressões assombraram o país e revelaram profundas falhas sociais e institucionais. Ao adaptar essa história, o diretor, conhecido por seu trabalho em A Menina que Matou os Pais e O Menino que Matou Meus Pais, enfrenta o difícil desafio de transformar um caso verídico aterrador em um thriller ficcional, sem que o resultado caia no sensacionalismo fácil. No entanto, apesar das ambições do projeto, Maníaco do Parque falha em entregar um relato envolvente e complexo, resultando em uma obra que, embora contenha momentos de impacto, é incapaz de explorar todo o potencial de sua narrativa.
A atuação de Silvero Pereira, aclamado por seu trabalho em Bacurau, é um dos principais destaques do filme. No papel de Francisco de Assis Pereira, ele entrega uma performance marcada por intensidade e nuances sombrias, capturando a frieza e a violência psicológica que definiram o serial killer. No entanto, a interpretação de Pereira oscila em certos momentos, onde o ator, ao tentar transmitir a mente perturbada de Francisco, acaba exagerando em gestos e expressões que beiram o caricato. A ciência nos diz que psicopatas tendem a ser emocionalmente frios e calculistas, o que parece contradizer a abordagem mais explosiva adotada em algumas cenas. Essa escolha enfraquece o que poderia ser um retrato mais fiel e perturbador do assassino. Ainda assim, Pereira consegue momentos de grande impacto, principalmente nas sequências em que a calma inquietante de seu personagem predomina.
Já Giovanna Grigio, que interpreta Elena, uma jovem repórter fictícia, luta para encontrar seu lugar em um ambiente de trabalho dominado pelo machismo e pela condescendência masculina. Elena é uma invenção do roteirista L. G. Bayão para representar os muitos jornalistas que cobriram o caso do Maníaco do Parque nos anos 1990. Sua personagem, apesar de fictícia, serve como um ponto de vista fundamental para a narrativa, trazendo à tona as tensões de gênero e a misoginia institucional da época. A atuação de Grigio é sólida, especialmente nas cenas em que sua personagem confronta o desprezo de seus colegas e chefes. Em momentos cruciais, como quando ela transborda de emoção ao se deparar com a brutalidade dos crimes, Grigio consegue transmitir uma carga emocional palpável, que humaniza a narrativa e gera empatia no espectador. No entanto, a personagem de Elena, assim como o roteiro, carece de profundidade, o que a impede de se destacar como uma protagonista memorável.
A direção de Maurício Eça é correta, mas em grande parte limitada. Conhecido por dirigir as adaptações cinematográficas dos crimes cometidos por Suzane von Richthofen, Eça demonstra familiaridade com o gênero de true crime, mas aqui parece preso entre o desejo de produzir uma obra visualmente impactante e a responsabilidade de lidar com a delicadeza dos fatos reais. A escolha de não fazer uma adaptação fiel dos eventos, optando por uma abordagem mais ficcional, é compreensível dentro do contexto do gênero, mas acaba prejudicando o filme, pois enfraquece a sensação de urgência e relevância que permeava o caso original. Faltou ousadia no tratamento do material, e o resultado é um filme que, embora tecnicamente bem realizado, não consegue aprofundar-se nos aspectos psicológicos e sociais que tornaram o caso de Francisco de Assis Pereira tão perturbador.
O roteiro de L.G. Bayão tenta equilibrar duas histórias principais: a de Francisco, o assassino, e a de Elena, a jornalista determinada a desmascará-lo e fazer justiça pelas vítimas. Essa divisão de narrativas, que poderia ser um elemento dinâmico e complementar, acaba prejudicando a coesão do filme. Em vez de aprofundar-se na mente do serial killer ou construir um estudo psicológico detalhado, o roteiro opta por intercalar momentos de tensão com subtramas pessoais que pouco acrescentam ao enredo. A relação de Elena com seu falecido pai, por exemplo, parece um artifício para humanizá-la, mas é tratada de maneira superficial e nunca se conecta verdadeiramente com a história principal. Isso acaba diluindo a tensão e o foco, fazendo com que o filme pareça indeciso sobre qual história quer realmente contar.
Apesar dessas limitações, o filme tem alguns momentos que merecem destaque. A cena em que Elena confronta o delegado vivido por Augusto Madeira, que trivializa a morte de mulheres com a frase “mulher morta e marido corno acontece todos os dias”, é um exemplo poderoso de como o filme reflete o machismo estrutural que ainda permeia a sociedade brasileira. Esse tipo de comentário, por mais perturbador que seja, é tristemente realista e expõe a maneira como crimes contra mulheres foram, e continuam sendo, tratados com descaso e negligência pelas autoridades. Momentos como esse reforçam a importância de dar voz às vítimas e de expor as falhas institucionais que permitiram que Francisco de Assis Pereira operasse por tanto tempo sem ser pego.
A atmosfera do filme, especialmente nas cenas que se passam no Parque do Estado, é bem construída pela fotografia de Marcelo Trotta, que consegue capturar a sensação de isolamento e perigo que rondava o local. No entanto, apesar dessa competência técnica, a direção de arte e o design de produção não conseguem criar uma ambientação que seja memorável ou marcante. O filme parece se contentar em reproduzir o Brasil dos anos 1990 de forma genérica, sem grande atenção aos detalhes culturais ou sociais da época. Isso enfraquece o potencial de imersão, deixando o espectador pouco conectado com o contexto histórico.
No que diz respeito ao gênero true crime, Maníaco do Parque parece desperdiçar a oportunidade de se firmar como um marco no cinema brasileiro. Enquanto obras internacionais como Mindhunter ou Zodíaco conseguem mesclar investigação psicológica com tensão crescente, o filme de Eça não atinge esse nível de profundidade ou impacto. A decisão de transformar a história de Francisco em um thriller ficcional poderia ter sido ousada, mas a execução carece de originalidade e ousadia. O que resta é uma obra competente, mas esquecível, que não deixa um impacto duradouro no espectador.
Em suma, Maníaco do Parque é uma produção com potencial, mas que, no fim, falha em explorar todas as camadas que o caso original oferecia. Apesar das atuações fortes de Silvero Pereira e Giovanna Grigio, e de momentos pontuais de crítica social, o filme sofre com um roteiro indeciso e uma direção que não ousa o suficiente. Como relato ficcional inspirado em eventos reais, ele acaba sendo apenas uma representação mediana de um dos casos mais infames da história recente do Brasil. Se a intenção era deixar uma marca no gênero true crime nacional, o filme perde a chance de ser lembrado como um exemplo forte e provocativo.
Maníaco do Parque (2024 / Brasil)
Direção: Maurício Eça
Roteiro: L. G. Bayão
Com: Silvero Pereira, Giovanna Grigio, Marco Pigossi, Bruno Garcia, Xamã, Christian Malheiros, Bruna Mascarenhas, Augusto Madeira, Mel Lisboa
Duração: 103 min.
Ari Cabral
Bacharel em Publicidade e Propaganda, profissional desde 2000, especialista em tratamento de imagem e direção de arte. Com experiência também em redes sociais, edição de vídeo e animação, fez ainda um curso de crítica cinematográfica ministrado por Pablo Villaça. Cinéfilo, aprendeu a ser notívago assistindo TV de madrugada, o único espaço para filmes legendados na TV aberta.
Maníaco do Parque
2024-10-24T09:53:00-03:00
Ari Cabral
Augusto Madeira|Bruna Mascarenhas|Bruno Garcia|christian malheiros|cinema brasileiro|critica|filme brasileiro|Giovanna Grigio|Marco Pigossi|Maurício Eça|Mel Lisboa|Silvero Pereira|true crime|Xamã|
Assinar:
Postar comentários (Atom)
cadastre-se
Inscreva seu email aqui e acompanhe
os filmes do cinema com a gente:
os filmes do cinema com a gente:
No Cinema podcast
anteriores deste site
mais populares do site
-
King Richard: Criando Campeãs (2021), dirigido por Reinaldo Marcus Green , é mais do que apenas uma cinebiografia : é um retrato emocionalm...
-
Olhando para A Múmia (1999), mais de duas décadas após seu lançamento, é fácil perceber como o filme se tornou um marco do final dos anos ...
-
Cinema Sherlock Homes O filme de destaque atualmente é esta releitura do clássico do mistério pelas mãos de Guy Ritchie. O ex de Madonna p...
-
Eletrizante é a melhor palavra para definir esse filme de Tony Scott . Que o diretor sabe fazer filmes de ação não é novidade, mas uma tra...
-
Clint Eastwood me conquistou aos poucos. Ele sabe como construir um filme que emociona e, agora, parece ter escolhido Matt Damon como seu ...
-
O Soterópolis programa cultural da TVE Bahia, fez uma matéria muito interessante sobre blogs baianos. Esta que vos fala deu uma pequena con...
-
Com previsão de lançamento para maio desse ano, Estranhos , primeiro longa do diretor Paulo Alcântara terá pré-estreia (apenas convidados) ...
-
Amor à Queima Roupa (1993), dirigido por Tony Scott e roteirizado por Quentin Tarantino , é um daqueles filmes que, ao longo dos anos, se...
-
O CinePipocaCult adverte: se você sofre de claustrofobia, síndrome do pânico ou problemas cardíacos é melhor evitar esse filme. Brincadeiras...