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A Múmia
A Múmia
Olhando para A Múmia (1999), mais de duas décadas após seu lançamento, é fácil perceber como o filme se tornou um marco do final dos anos 90, especialmente pela combinação de aventura e efeitos especiais. Dirigido por Stephen Sommers, A Múmia revitalizou o gênero de aventura com toques de horror, apostando em uma fórmula leve e divertida que, apesar de não ser impecável, cativou o público com seu ritmo frenético e visual impressionante.
A trama, passada no Egito dos anos 20, segue o aventureiro Rick O’Connell, interpretado por Brendan Fraser, que guia uma equipe de arqueólogos à misteriosa cidade perdida de Hamunaptra, onde o sacerdote amaldiçoado Imhotep é acidentalmente ressuscitado. O filme equilibra ação e humor, com toques de terror clássico, enquanto explora as reviravoltas entre maldições egípcias e sequências explosivas.
O grande trunfo de A Múmia sempre foi o seu senso de espetáculo. Stephen Sommers se inspirou em grandes aventuras como Indiana Jones e no clássico Jasão e os Argonautas, buscando criar uma história que, acima de tudo, fosse pura diversão. O tom despretensioso fica claro desde o início: há uma mistura de referências que vão de momentos clichês do terror a piadas metalinguísticas, como quando o personagem de Fraser comenta sobre a quantidade de eventos sobrenaturais que ele e sua equipe enfrentam.
Fraser, em sua época de auge físico e carismático, entrega um desempenho que lembra uma versão mais canastrona de Indiana Jones. Ele é o típico herói clássico, cheio de bravura, charme e aquele tipo de sorte absurda que só se encontra nos filmes de aventura. Embora seu Rick O’Connell não seja exatamente profundo ou complexo, Fraser interpreta o papel com uma energia contagiante que torna fácil torcer por ele. Sua química com Rachel Weisz, que interpreta a atrapalhada e encantadora arqueóloga Evelyn, também ajuda a ancorar o filme. Weisz, apesar de seu grande talento dramático, está limitada a um papel de “donzela em perigo” na maior parte do tempo, mas ainda assim traz uma leveza e carisma suficientes para torná-la uma presença agradável.
O vilão Imhotep, interpretado por Arnold Vosloo, talvez seja o personagem mais icônico do filme. Seus momentos iniciais como a múmia amaldiçoada, recém-despertada e sedenta de vingança, ainda conseguem transmitir um certo grau de ameaça. No entanto, o excesso de efeitos visuais empregados para dar vida à criatura acaba diluindo boa parte do impacto emocional que poderia ter sido explorado com mais nuances. A boca gigantesca que se abre em tormentas de areia, por exemplo, é mais um espetáculo visual do que uma ameaça tangível, e isso resume o problema central de A Múmia.
Os efeitos especiais, criados pela Industrial Light & Magic, são um marco para a época e, inegavelmente, ajudaram a atrair o público. No entanto, revendo o filme hoje, é evidente como o CGI é utilizado até o esgotamento. A Múmia que se reconstrói a partir de areia e pedaços de carne decomposta impressionava nos anos 90, mas hoje seu impacto é mais nostálgico do que genuinamente assustador. O filme teria se beneficiado de um equilíbrio melhor entre efeitos práticos e digitais. A ausência de sutileza aqui, em comparação com filmes clássicos como Tubarão (1975) ou Alien - O oitavo passageiro (1979) é notável. Ao esconder seus monstros por grande parte do filme, tanto Spielberg quanto Ridley Scott permitiram que a imaginação dos espectadores trabalhasse por conta própria, gerando tensão. Sommers, por outro lado, opta por nos mostrar a criatura em toda sua glória desde o início, o que elimina qualquer mistério e, por extensão, boa parte do medo que poderia ser causado.
A direção de Stephen Sommers é movida por uma constante busca de dinamismo. Cada cena de A Múmia é cheia de movimento, seja uma perseguição em meio às dunas ou uma fuga frenética por corredores antigos repletos de armadilhas. Isso, por um lado, mantém o filme acelerado e, por outro, cria uma sensação de superficialidade, onde não há tempo para realmente mergulhar no terror das maldições ou nas complexidades dos personagens. Ao invés de momentos de pausa e suspense, o filme avança de uma sequência grandiosa para outra, criando uma narrativa que, embora divertida, carece de profundidade.
Ainda assim, o filme tem seus momentos genuinamente engraçados, em especial o alívio cômico fornecido por Jonathan (John Hannah), o irmão de Evelyn, e pelo covarde Beni (Kevin J. O'Connor). As interações entre eles e os protagonistas garantem que o tom leve do filme nunca se perca, mesmo nos momentos de maior perigo. Isso torna A Múmia um filme de aventura familiar, algo que, na época de lançamento, foi uma escolha comercial inteligente.
Do ponto de vista técnico, há muito o que se elogiar. A fotografia de Adrian Biddle, com suas amplas vistas do deserto e interiores luxuosos de tumbas antigas, é um dos destaques visuais do filme. A estética mistura uma certa grandiosidade épica com o toque de terror necessário para o contexto. O design de produção de Allan Cameron também merece crédito, recriando Hamunaptra e os templos de maneira que evocam mistério e perigo, ainda que o exagero digital acabe muitas vezes sobrepondo o valor dessas criações.
Em termos de legado, A Múmia se firmou como um blockbuster respeitável. Ele gerou sequências e spin-offs que, por melhores ou piores que tenham sido, consolidaram a presença de Brendan Fraser como um herói de ação da época. No entanto, se há algo que A Múmia representa perfeitamente, é o início da dependência excessiva de Hollywood em efeitos digitais, um caminho que muitos filmes seguiram nas décadas seguintes. Para o bem ou para o mal, A Múmia é uma espécie de precursor da era dos blockbusters carregados de CGI, onde o espetáculo visual frequentemente se sobrepõe à narrativa.
O filme de Stephen Sommers também é uma lembrança de um período mais simples do cinema de aventura, onde o foco principal era entreter. E nisso, A Múmia acerta em cheio. Mesmo que seus efeitos especiais tenham envelhecido e sua narrativa seja um tanto rasa, há algo inegavelmente prazeroso em assistir Brendan Fraser correr por tumbas e lutar contra múmias. A Múmia encontrou o equilíbrio entre aventura, comédia e horror de maneira que poucos filmes conseguiram. É um filme que, embora não seja um clássico absoluto, oferece o tipo de escapismo que só uma boa e leve sessão de cinema também pode proporcionar.
A Múmia (The Mummy, 1999 / EUA)
Direção: Stephen Sommers
Roteiro: Stephen Sommers
Com: Brendan Fraser, Rachel Weisz, John Hannah, Arnold Vosloo, Kevin J. O’Connor, Jonathan Hyde, Oded Fehr, Erick Avari, Stephen Dunham, Patricia Velasquez
Duração: 125 min.
Ari Cabral
Bacharel em Publicidade e Propaganda, profissional desde 2000, especialista em tratamento de imagem e direção de arte. Com experiência também em redes sociais, edição de vídeo e animação, fez ainda um curso de crítica cinematográfica ministrado por Pablo Villaça. Cinéfilo, aprendeu a ser notívago assistindo TV de madrugada, o único espaço para filmes legendados na TV aberta.
A Múmia
2024-11-15T08:30:00-03:00
Ari Cabral
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