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A Escolha Perfeita
A Escolha Perfeita
Poucas coisas são tão certeiras em Hollywood quanto o apelo de histórias universitárias repletas de estereótipos, competição e superação. Em A Escolha Perfeita (Pitch Perfect), lançado em 2012, essas fórmulas consagradas recebem um toque de modernidade e humor, resultando em uma comédia musical que equilibra, de forma nem sempre harmoniosa, o charme de seus protagonistas com os tropeços de um roteiro previsível. Dirigido por Jason Moore em sua estreia no cinema, o filme é, em essência, uma tentativa de capturar o zeitgeist da época: um mundo ainda sob o impacto do fenômeno Glee e da explosão da cultura pop como linguagem universal.
No centro da trama está Beca, interpretada pela sempre carismática Anna Kendrick. Uma jovem caloura universitária que prefere passar os dias sozinha, imersa em mixagens de músicas, sonhando em se tornar uma DJ de sucesso. Forçada por seu pai a se integrar à vida universitária, ela acaba, contra sua vontade, no The Barden Bellas, um grupo a capella feminino que luta para recuperar a reputação após um vexame público. A jornada de Beca com as Bellas, lideradas pela controladora Aubrey (Anna Camp) e pela otimista Chloe (Brittany Snow), segue o já conhecido arco de superação, transformação e, claro, vitória em competições, mas o caminho é pontuado por momentos de genuína diversão.
Um dos maiores méritos de A Escolha Perfeita é sua habilidade em explorar o humor absurdo e autodepreciativo. Muito disso se deve a Rebel Wilson, cuja Fat Amy é uma força inegável no filme. Desde sua entrada em cena, Rebel domina com um timing cômico impecável e uma entrega despreocupada que rouba a atenção até mesmo das situações mais banais. Fat Amy não é apenas uma coadjuvante engraçada; ela é a válvula de escape do filme, trazendo leveza para uma narrativa que, em momentos, pode parecer forçada em sua tentativa de ser descolada.
No entanto, o roteiro de Kay Cannon – baseado no livro de Mickey Rapkin – luta para equilibrar tons distintos. Por um lado, há o humor nonsense de personagens como Fat Amy e os apresentadores dos torneios, Gail (Elizabeth Banks) e John (John Michael Higgins), cujas piadas politicamente incorretas são hilárias, embora nem sempre acertem o alvo. Por outro lado, há uma tentativa de desenvolver Beca como uma protagonista mais introspectiva e “pé no chão”, uma abordagem que nunca é plenamente explorada. A paixão de Beca pela música, que deveria ser o coração de sua história, é tratada de forma superficial, deixando de dar ao público uma conexão mais emocional com suas escolhas.
A direção de Jason Moore é funcional, mas carece de ousadia. Para um filme centrado em música e performances, há uma notável falta de criatividade visual. As cenas das competições, que deveriam ser vibrantes e visualmente empolgantes, são filmadas com pouca variação de ângulos e repetição de planos frontais e traseiros. A montagem das apresentações, especialmente na audição inicial e no clímax, carece da energia que a trilha sonora merece. Ainda assim, Moore compensa essa falta de inventividade com um bom ritmo narrativo, mantendo o público entretido mesmo quando a história tropeça.
A trilha sonora, por sua vez, é uma das grandes forças do filme. Os mashups, especialmente aqueles criados por Beca, refletem uma curadoria moderna e envolvente. Misturando sucessos contemporâneos como Titanium (David Guetta e Sia) e Just the Way You Are (Bruno Mars) com clássicos dos anos 80, como Don't You (Forget About Me) (Simple Minds), o filme consegue capturar o espírito de diferentes gerações. É difícil sair da sessão sem ao menos uma música grudada na cabeça.
Entre os momentos mais marcantes está a “competição de refrões”, uma sequência que resume o humor e a leveza do filme. Nela, diferentes personagens se enfrentam com trechos de músicas populares, transformando um conceito simples em uma cena memorável. Também vale destacar a crescente relação de Beca com Jesse (Skylar Astin), ainda que o romance seja um tanto quanto subdesenvolvido e previsível, funcionando mais como uma subtrama do que um elemento essencial.
Apesar de suas qualidades, A Escolha Perfeita usa cenas de humor escatológico, como nas cenas de vômito exageradas e o burrito atirado em uma personagem, e de gosto duvidoso que quebram o tom leve da narrativa. Além disso, o filme tropeça ao tratar personagens coadjuvantes como caricaturas unidimensionais, com piadas que frequentemente ultrapassam a linha do aceitável, especialmente no caso da personagem Lilly (Hana Mae Lee) e seu comportamento excêntrico que rapidamente cansa.
No entanto, seria injusto desmerecer completamente A Escolha Perfeita. Apesar de seus defeitos, ele é um filme que entende o que quer ser: um entretenimento despretensioso que combina música pop, humor e uma dose de nostalgia adolescente. Sua capacidade de brincar com clichês sem levá-los muito a sério é um dos motivos pelos quais se tornou uma referência no gênero de comédias musicais modernas, gerando duas sequências e consolidando sua base de fãs.
Em última análise, A Escolha Perfeita não é um filme revolucionário ou marcante, mas apenas uma experiência divertida e carismática. Com atuações sólidas de Anna Kendrick e Rebel Wilson, uma trilha sonora marcante e momentos que arrancam risadas genuínas, ele consegue superar seus tropeços narrativos. Para aqueles que buscam algo leve e musical, é uma escolha que, se não é perfeita, ao menos chega perto de ser divertida.
A Escolha Perfeita (Pitch Perfect, 2012 / EUA)
Direção: Jason Moore
Roteiro: Kay Cannon
Com: Anna Kendrick, Rebel Wilson, Anna Camp, Brittany Snow, Skylar Astin, John Michael Higgins, Elizabeth Banks, Adam DeVine
Duração: 112 min.

Ari Cabral
Bacharel em Publicidade e Propaganda, profissional desde 2000, especialista em tratamento de imagem e direção de arte. Com experiência também em redes sociais, edição de vídeo e animação, fez ainda um curso de crítica cinematográfica ministrado por Pablo Villaça. Cinéfilo, aprendeu a ser notívago assistindo TV de madrugada, o único espaço para filmes legendados na TV aberta.
A Escolha Perfeita
2025-04-07T08:30:00-03:00
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