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Emilia Pérez
Emilia Pérez
Treze indicações ao Oscar, diversos prêmios desde o Festival de Cannes 2024, não há como negar que Emilia Pérez é um fenômeno. O que não significa que seja uma unanimidade. Construída em cima de estereótipos e preconceitos, a obra do francês Jacques Audiard acaba sendo uma decepção.
A trama gira em torno do narcotraficante Manitas que tem um desejo secreto: ser uma mulher. Para isso, ele contrata a advogada Rita, vivida por Zoë Saldaña, para planejar sua cirurgia de redesignação de sexo e mudar sua identidade. Assim, o antigo narcotraficante se transforma em Emília Pérez, uma milionária filantrópica que irá fundar uma ONG para encontrar pessoas desaparecidas.
Inspirada em um romance de Boris Razon, o roteiro escrito pelo próprio Jacques Audiard transita por uma linha tênue da compreensão da causa trans. Temos uma personagem interpretada por uma atriz trans, o que já é um avanço positivo, inclusive é a primeira mulher trans indicada a melhor atriz no Oscar. Em diversos momentos, ela fala sobre esse “eu” verdadeiro que teve que ser recolhido pelas circunstâncias da vida. Mas, ao mesmo tempo, a narrativa constrói a superficialidade da “troca” de sexo como uma forma de fugir da vida criminosa, quase um disfarce, no qual a cirurgia é essencial.
Por mais que uma obra de ficção não seja um tratado científico sobre nenhum assunto, a construção de uma trama em cima de estereótipos acaba reforçando preconceitos. Isso é perigoso. Até mesmo de mal gosto, basta citar uma cena em que a personagem de Zoë Saldaña pesquisa uma clínica e um número musical vai listando as intervenções que serão feitas de uma maneira jocosa. Outras cenas também ajudam a reforçar preconceitos em relação a pessoas trans. O que passa é que o filme considera a história em si uma grande piada, vide o final dele.
Nenhum problema em construir uma sátira, a questão é que Emília Pérez transita entre a sátira, o melodrama estereotipado e o musical, que por si só, já é um gênero bastante peculiar. A mistura não funcionou tão bem, ainda que tenha bons momentos, como a cena de El Mal, uma das canções originais que estão concorrendo ao Oscar e dá a Zoë Saldaña o melhor momento da trama. Forte e intensa, quase nos faz esquecer a já citada cena na clínica. Ainda que, de alguma forma, todos os números musicais causem um certo estranhamento, inclusive na métrica musical.
Por mais que o filme se chame Emilia Pérez, importante salientar, Rita é a verdadeira protagonista da trama. Tem mais tempo de tela e faz a narrativa andar. Zoë Saldaña está muito bem em sua defesa, por mais que a personagem careça de algum aprofundamento. Karla Sofia Gascón também defende bem sua personagem. Sua interpretação desde Manitas nos passa a verdade daquela mulher, com momentos realmente emocionantes com a relação com os filhos e a futura relação com Epifania. O que não ajuda é mesmo o desenvolvimento da personagem e essa indecisão do tom da obra.
Ainda assim é possível reconhecer elementos positivos em Emilia Pérez que justificam tanto frisson. Ainda que a caracterização do México carregue em estereótipos, há uma ambientação envolvente que nos deixa curiosos em relação à trama. O musical, apesar de não ser clássico, abusa nos números, que são bem dirigidos e trabalham com uma fotografia que ajuda na distinção do real e do imaginário, deixando menos estranho o fato das personagens começarem a cantar do nada, por exemplo. E claro, Selena Gomez ter dois solos ajuda na adesão do público mais jovem.
Por mais qualidades técnicas que tenha, Emilia Pérez não pode ser considerado um grande filme. Ao mesmo tempo em que parece não se levar a sério, querendo apenas explorar uma trama a partir de uma “piada”, insere elementos que buscam aprofundar essas questões, mas de maneira superficial. Entre a farsa, o melodrama e o musical, acaba sendo apenas uma mistura indigesta. Infelizmente.
Emilia Pérez (França, 2025)
Direção: Jacques Audiard
Roteiro: Jacques Audiard
Com: Zoë Saldaña, Karla Sofia Gascón, Selena Gomez, Adriana Paz, Édgar Ramirez
Duração: 130 min.
Amanda Aouad
Crítica afiliada à Abraccine (Associação Brasileira de Críticos de Cinema), é doutora em Comunicação e Cultura Contemporâneas (Poscom / UFBA) e especialista em Cinema pela UCSal. Roteirista profissional desde 2005, é co-criadora do projeto A Guardiã, além da equipe do Núcleo Anima Bahia sendo roteirista de séries como "Turma da Harmonia", "Bill, o Touro" e "Tadinha". É ainda professora dos cursos de Jornalismo e Publicidade e Propaganda da Unifacs e da Uniceusa. Atualmente, faz parte da diretoria da Abraccine como secretária geral.
Emilia Pérez
2025-01-30T08:30:00-03:00
Amanda Aouad
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