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Catherine Salée
cinema europeu
critica
drama
Fabrizio Rongione
Irmãos Dardenne
Marion Cotillard
oscar 2015
Dois Dias, Uma Noite
Dois Dias, Uma Noite
Se tem uma coisa que os irmãos Dardenne conseguem fazer bem é pegar dramas cotidianos particulares e extrair grandes temas universais. Dois Dias, Uma Noite é mais um deles.
Sandra acaba de sair de uma depressão profunda e descobre que irá perder seu emprego porque seu chefe fez os seus colegas votarem entre ela continuar no emprego ou eles ficarem com um bônus salarial. Sabendo que muitos votaram por medo de perder os próprios empregos, ela vai ter um final de semana para tentar convencer um a um a mudar seus votos.
Imaginem a situação infeliz e desumana de bater de porta em porta pedindo para seu colega de trabalho desistir de um bônus para que você permaneça no emprego. O jogo de culpa e recompensa é cruel. Assim como a própria situação em que todos são colocados pelo chefe e pelo gerente que fica pressionando a todos com ameaças.
Por trás do drama de Sandra, temos diversos temas que os irmãos Dardenne nos provocam a pensar, a começar pela natureza humana. Até que ponto vai a generosidade e o senso de coletividade quando está em jogo a própria sobrevivência? Perder um bônus salarial para que um colega não perca tudo vale a pena? E como lidar com as próprias contas quando o salário não chega ao final do mês abrindo mão dessa ajuda bem-vinda?
Dois Dias, Uma Noite vai nos mostrando esse caminho ingrato percorrido por uma mulher que acaba de lidar com uma doença ainda mais cruel que é a depressão. Isso, tendo um marido compreensivo, mas que tem seus limites, e duas filhas para criar. Parar para pensar no que tudo isso significa pode dar um nó na garganta. E Marion Cotillard consegue nos passar esse dilema com uma força incrível em cada gesto, olhar, postura corporal, sem exageros.
O estilo próprio dos diretores que nos faz alongar a ação, quase como se a seguíssemos em tempo real, também ajuda nessa angústia. A primeira cena em que Sandra liga para um dos colegas é toda em uma câmera parada em um plano médio mostrando as reações e falas da personagem como se estivéssemos ali, ao lado dela. A angústia e a expectativa da resposta de cada pessoa vai nos levando junto a Sandra à contagem regressiva. Sofremos com cada não, recusa a conversar ou mesmo explosão de raiva, como se ela estivesse roubando algo deles, quando só quer o seu emprego de volta.
Mas, esses mesmos diretores que nos angustiam junto à personagem, nos proporcionam o alívio junto a ela, como nos dois momentos de música no carro. Primeiro, ela e o marido ouvindo uma melodia que fala muito da dor dela, só que construída de uma maneira que mais parece uma catarse. E a segunda, onde os dois e outra amiga se distraem com um rock animado em um dos poucos momentos leves do filme.
Dois Dias, Uma Noite é uma obra que faz pensar e nos angustia em doses parecidas. Tem seu maior mérito na interpretação de Marion Cotillard, mas não seria possível sem a sensibilidade realista de seus diretores. Pode não ser a obra mais impactante deles, mas mantém o estilo de nos fazer mergulhar no drama de seus personagens.
Dois dias, uma noite (Deux jours, une nuit, 2014 / Bélgica / França)
Direção: Jean-Pierre Dardenne, Luc Dardenne
Roteiro: Jean-Pierre Dardenne, Luc Dardenne
Com: Marion Cotillard, Fabrizio Rongione, Catherine Salée
Duração: 95 min.
Sandra acaba de sair de uma depressão profunda e descobre que irá perder seu emprego porque seu chefe fez os seus colegas votarem entre ela continuar no emprego ou eles ficarem com um bônus salarial. Sabendo que muitos votaram por medo de perder os próprios empregos, ela vai ter um final de semana para tentar convencer um a um a mudar seus votos.
Imaginem a situação infeliz e desumana de bater de porta em porta pedindo para seu colega de trabalho desistir de um bônus para que você permaneça no emprego. O jogo de culpa e recompensa é cruel. Assim como a própria situação em que todos são colocados pelo chefe e pelo gerente que fica pressionando a todos com ameaças.
Por trás do drama de Sandra, temos diversos temas que os irmãos Dardenne nos provocam a pensar, a começar pela natureza humana. Até que ponto vai a generosidade e o senso de coletividade quando está em jogo a própria sobrevivência? Perder um bônus salarial para que um colega não perca tudo vale a pena? E como lidar com as próprias contas quando o salário não chega ao final do mês abrindo mão dessa ajuda bem-vinda?
Dois Dias, Uma Noite vai nos mostrando esse caminho ingrato percorrido por uma mulher que acaba de lidar com uma doença ainda mais cruel que é a depressão. Isso, tendo um marido compreensivo, mas que tem seus limites, e duas filhas para criar. Parar para pensar no que tudo isso significa pode dar um nó na garganta. E Marion Cotillard consegue nos passar esse dilema com uma força incrível em cada gesto, olhar, postura corporal, sem exageros.
O estilo próprio dos diretores que nos faz alongar a ação, quase como se a seguíssemos em tempo real, também ajuda nessa angústia. A primeira cena em que Sandra liga para um dos colegas é toda em uma câmera parada em um plano médio mostrando as reações e falas da personagem como se estivéssemos ali, ao lado dela. A angústia e a expectativa da resposta de cada pessoa vai nos levando junto a Sandra à contagem regressiva. Sofremos com cada não, recusa a conversar ou mesmo explosão de raiva, como se ela estivesse roubando algo deles, quando só quer o seu emprego de volta.
Mas, esses mesmos diretores que nos angustiam junto à personagem, nos proporcionam o alívio junto a ela, como nos dois momentos de música no carro. Primeiro, ela e o marido ouvindo uma melodia que fala muito da dor dela, só que construída de uma maneira que mais parece uma catarse. E a segunda, onde os dois e outra amiga se distraem com um rock animado em um dos poucos momentos leves do filme.
Dois Dias, Uma Noite é uma obra que faz pensar e nos angustia em doses parecidas. Tem seu maior mérito na interpretação de Marion Cotillard, mas não seria possível sem a sensibilidade realista de seus diretores. Pode não ser a obra mais impactante deles, mas mantém o estilo de nos fazer mergulhar no drama de seus personagens.
Dois dias, uma noite (Deux jours, une nuit, 2014 / Bélgica / França)
Direção: Jean-Pierre Dardenne, Luc Dardenne
Roteiro: Jean-Pierre Dardenne, Luc Dardenne
Com: Marion Cotillard, Fabrizio Rongione, Catherine Salée
Duração: 95 min.
Amanda Aouad
Crítica afiliada à Abraccine (Associação Brasileira de Críticos de Cinema), é doutora em Comunicação e Cultura Contemporâneas (Poscom / UFBA) e especialista em Cinema pela UCSal. Roteirista profissional desde 2005, é co-criadora do projeto A Guardiã, além da equipe do Núcleo Anima Bahia sendo roteirista de séries como "Turma da Harmonia", "Bill, o Touro" e "Tadinha". É ainda professora dos cursos de Jornalismo e Publicidade e Propaganda da Unifacs e da Uniceusa. Atualmente, faz parte da diretoria da Abraccine como secretária geral.
Dois Dias, Uma Noite
2015-02-20T08:30:00-03:00
Amanda Aouad
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