Quem pensava que a onda de filmes espíritas brasileiros fosse acabar no ano passado com o centenário de Chico Xavier, estava enganado. Essa semana chega aos cinemas O Filme dos Espíritos, dirigido por André Marouço e Michel Dubret, para homenagear o mês do nascimento do codificador da doutrina espírita, que nasceu a exatos 207 anos, em 3 de outubro de 1804 na cidade de Lyon, com o nome de batismo de Hippolyte Léon Denizard Rivail. O filme é baseado na primeira obra lançada pelo codificador chamada de O Livro dos Espíritos, onde perguntas diversas são respondidas por uma equipe espiritual. A idéia do filme surgiu em 2009 através de um concurso de roteiros organizada pela TV Mundo Maior com o título de Projeto Mundo Maior. A idéia era que, a cada mês, um capítulo do livro era tema para diversos candidatos. Ao final, oito roteiros foram escolhidos e oito curtas produzidos seguindo os temas:
LIVRO PRIMEIRO:
CURTA 01 - Capítulo I. DEUS
CURTA 02 – Capítulo III. CRIAÇÃO
LIVRO SEGUNDO:
CURTA 03 – Capítulo I. DOS ESPÍRITOS
CURTA 04 – Capítulo III. RETORNO DA VIDA CORPORAL PARA A VIDA ESPIRITUAL
CURTA 05 – Capítulo IV. PLURALIDADE DAS EXISTÊNCIAS
LIVRO TERCEIRO:
CURTA 06 – Capítulo I. A LEI DIVINA OU NATURAL
CURTA 07 – Capítulo VII. LEI DE SOCIEDADE
LIVRO QUARTO:
CURTA 08 – Capítulos I e II- ESPERANÇAS E CONSOLAÇÕES
A partir dos oito curtas selecionados, surgiu a idéia do longametragem com a história de Bruno, um homem de quarenta anos que acaba de perder a esposa e, no desespero descobre o Livro dos Espíritos. A jornada de redescoberta da vida dele à medida em que lê o livro é que faz a junção das oito histórias criadas anteriormente. Uma idéia que pode dar muito certo ou ser mais uma tentativa lamentável de unir doutrina com um bom filme. Acho mais do que válido filmes temáticos, cinema pode ser uma máquina política, por que não religiosa? Mas, o principal é construir um bom filme, em todos os sentidos. A temática espiritual já gerou pérolas como Depois da Vida, O Sexto Sentido, A Casa dos Espíritos e Além da Vida. Acredito ainda que seja possível fazer um filme espírita nos mesmos moldes, o grande problema da filmografia até então apresentada foi esquecer a técnica e buscar ser doutrinário acima de tudo. Além de filme de nicho, acaba tendo vários problemas de roteiro e direção. Nesse quesito, Daniel Filho acabou sendo o melhor sucedido, talvez por ser ateu e querer fazer um filme e não uma obra doutrinária.
Apesar de ter um tom doutrinário também, até por ser uma produção da TV Mundo Maior, a chegada de O Filme dos Espíritos, mesmo com uma produção picotada, traz alguma esperança pela forma como foi produzida. De cem roteiros inscritos, temos que acreditar que esses oito sejam realmente bons pelo menos nesse quesito e que nos possa apresentar uma história interessante. Mas, certeza mesmo só teremos após o dia 07 com a estreia do filme.
Relembrem aqui os filmes espíritas feitos até então:
Bezerra de Menezes - O Diário de um Espírito (2008)Direção: Glauber Filho, Joe Pimentel
O que seria a princípio um documentário sobre o famoso médium espírita, acabou se transformando em uma cinebiografia lamentável, com um ritmo arrastado através de um roteiro pouco criativo e uma direção problemática. Sem falar na trilha sonora cansativa. Ainda assim, conseguiu uma boa bilheteria que chamou a atenção para o nicho.
Direção: Daniel Filho
Melhor resultado tanto de bilheteria quanto de crítica, Daniel Filho conseguiu recontar a vida do principal médium brasileiro de uma forma envolvente. Partindo da entrevista dada por Chico Xavier no Programa Pinga Fogo da extinta Rede Tupi, vamos acompanhando partes importantes da vida do médium e conhecendo porque era um exemplo vivo da filosofia cristã.
Direção: Wagner de Assis
Filme mais aguardado pelos espíritas por ser a adaptação de uma das principais obras doutrinárias após a codificação inicial. A expectativa só aumentou com as primeiras imagens e efeitos especiais apresentados no trailer e em cenas de bastidores. Uma pena que o resultado final trouxe alguns problemas, principalmente na atuação do protagonista e no roteiro. Ainda assim, bateu vários recordes de bilheteria e foi o filme escolhido pelo voto popular para representar o Oscar, o que acabou, claro, não se confirmando, sendo escolhido pelo Minc o filme de Lula.
Direção: Cristiana Grumbach
Documentário com as mães que receberam cartas psicografadas de seus filhos através das mãos do médium Chico Xavier. Outra obra que ficou na boa intenção. Pouco criativa, a diretora acaba se perdendo na construção da obra que se torna repetitiva e cansativa. Uma pena, pois é um belo registro de recuperação da fé. Pessoas que passaram pela mesma experiência podem ter um alento vendo aquelas mulheres falando.
Direção: Glauber Filho, Halder Gomes
Segundo filme da dupla que estreou a onda espírita no cinema com Bezerra de Menezes. Há uma melhora significativa do primeiro para o segundo filme, mas ainda assim falta muito para uma boa obra. Principalmente na trilha sonora que é um dos pontos mais problemáticos do longametragem, chegando a estragar o que seriam boas cenas como a do hospital onde a personagem de Vanessa Gerbelli tem a notícia da perda do filho.
Por fim, e não menos importante, um curta-metragem que não é exatamente espírita, mas traduz um pouco do que falo de boa história, bem produzida, unida à mensagem espírita. Tanto que venceu o Project: Direct, concurso internacional de curtas promovido pelo YouTube.
